Pescadores da praia de Ponta Negra, na Zona Sul de Natal, temem os impactos da obra de engorda da orla sobre a atividade artesanal desenvolvida há gerações pelas suas famílias. As informações são de representantes os trabalhadores que foram ouvidas pelo portal g1.
O projeto de engorda prevê um aterro ao longo de 4 quilômetros na enseada de Ponta Negra. O objetivo final é de que a faixa de areia nas praias de Ponta Negra e Via Costeira seja alargada para até 100 metros na maré baixo e 50 metros na maré alta.
A areia necessária para a obra deverá vir de um banco de sedimentos no mar, a 6 km da costa, na altura do farol de Mãe Luiza. A prefeitura de Natal também defende que a engorda da faixa de areia é uma das medidas necessárias para preservação do Morro do Careca.
Segundo entidades como a colônia de pescadores de Natal, pelo menos 150 pessoas vivem dessa atividade na Vila de Ponta Negra, sem contar seus dependentes.
De acordo com os trabalhadores, a preocupação da categoria gira em torno de pelo menos dois fatores: o impacto social da obra, causado pela suspensão da pesca durante o trabalho com máquinas na praia; e o aspecto ambiental.
Os pescadores acreditam que a retirada de areia de um banco de terra localizado no mar poderá impactar a cadeia alimentar dos animais pescados na região, afastando os peixes para pontos mais distantes. Eles também temem a formação de barrancos de areia e de uma praia mais funda por causa da obra.
Responsável pelo suporte jurídico oferecido aos pescadores pela Organização Mutirão, em cooperação com a colônia de pescadores da cidade, o advogado Luciano Falcão ressalta que os trabalhadores ainda não foram ouvidos em consulta livre, prévia e informada, como previsto em convenção da Organização Internacional do Trabalho, para projetos que abranjam áreas de interesse de comunidades tradicionais.
“A consulta deve ser feita com quem vive da pesca artesanal. Os estudos ambientais feitos até agora sequer falam quais são as espécies de pescados que são capturadas aqui na região”, diz o profissional, que defende a ampliação dos estudos sobre os impactos.
Presidente da colônia de pescadores de Natal, Rosângela Silva, afirma que os profissionais são contrários à engorda. “Não somos favoráveis, isso vai impactar a atividade do pescador. Temos realizado reuniões quase todos os dias. É uma coisa que a gente sabe que vai acontecer”, diz.
Pescador e uma das lideranças entre os pescadores de Ponta Negra, Armando dos Santos, mais conhecido como Beto, defende que os trabalhadores recebam auxílio do poder público durante a obra. Ele destaca, no entanto, que os impactos deverão durar além do tempo previsto para a obra.
O pescador afirma que o banco de areia que será usado para o aterro da praia conta com espécies de animais que servem como alimento e atrativo para os grandes peixes capturados na região. Ele acredita que a obra poderá afastar os animais para áreas mais distantes do litoral.
“As autoridades não consultam a área pesqueira. Nem sequer mostram o projeto. Queremos ser ouvidos para dar sugestões, porque temos visto exemplos, como no Paraná, que houve a surgimento de barrancos. Quando você bota camada de areia a tendência é o mar levar. Lá os pescadores estão prejudicados. Estamos preocupados com a segurança”, ressaltou.
Fonte: G1RN
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