PESCOÇO PARTE 2 –
Sigo pensando no meu pescoço e na loucura que é o corre-corre dos ponteiros do relógio. Ainda sem lencinhos ou burca, mas olhando-o de soslaio, pensando se os cremes estão fazendo efeito. Mesmo que não o faça, pelo menos me divirto com a nova rotina de cuidado.
Sento sozinha para tomar um café no shopping, vendo o vai-e-vem das pessoas. Brinco de imaginar como seriam os rostos sob as máscaras. Percebo que, por mais que eu tente, nunca vou descobrir. Isto fica claro após um ou outro colocarem aqueles pedacinhos de pano dentro da bolsa ou sob o nariz para comerem alguma coisa. Surpreendo-me como o formato da boca não era o que eu pensava enquanto estava coberto.
Então, em meio a divagação que me é comum, vejo uma senhora de seus 60 e poucos anos passando com uma saia bem curta e arrancando um olhar indignado de uma outra mulher.
Sempre me disseram que as mulheres se vestem umas para as outras. Achava isso loucura… Hoje desconfio que pode ser verdade. A primeira, cabelos grisalhos meticulosamente cortados e penteados, seguia com seus saltos altos e cabeça erguida, provavelmente ciente dos olhares que se viravam para ela e suas pernas. Algumas mulheres, viravam seus pescoços e depois cochichavam com seus pares sobre isso.
Indignadas com uma saia curta! Uma saia!
Procurei na minha mente se há um documento registrando a idade para usarmos tais peças de roupas:
“Aos 15, pode usar cropped.
Aos 20, pode usar mini-saia e calça justa.
Aos 40, você pode usar roupas justas. Só na academia!
Aos 60, roupas longas e largas, mangas compridas, cores neutras.”
E assim seguiria…
Perdi esse edital! Não chegou até minhas mãos!
Ufa!
Isto me tornou livre para usar o que me parece conveniente. E, enfim, percebi mais uma vez que em meio a tantas opiniões, poucas são as que realmente importam.
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora