Uma pesquisa realizada por um médico-veterinário do Rio Grande do Norte encontrou o primeiro caso, no Brasil, de um cavalo infectado com o protozoário trypanosoma cruzi, responsável pela Doença de Chagas. Esse também é um dos primeiros casos descritos pela ciência no mundo.
A pesquisa acaba de ser submetida para publicação da revista científica Parasitology Research e faz parte do doutorado do médico-veterinário Vicente Toscano, que havia estudado a presença do protozoário em cachorros durante o mestrado.
O estudo ocorre no laboratório de biologia dos parasitos, dentro do Programa de Pós Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
A pesquisa também localizou caprinos e ovinos infectados pelo mesmo agente. As infecções desses animais são as primeiras descritas no Rio Grande do Norte. A pesquisa ocorreu em oito municípios das regiões Agreste, Central e Oeste.
“Os animais servem de sentinelas para novos casos de zoonoses. Se o poder público vigiar os animais, ele conseguirá prever o surgimento de surtos e epidemias nos humanos, em determinadas regiões”, ressalta o pesquisador.
De acordo com o médico-veterinário, a ideia da pesquisa é entender o ciclo da transmissão da doença de chagas para humanos e a importância também dos animais domesticados nesse processo. A maior parte das pesquisas apontam para a infecção dos insetos no contato com animais silvestres.
“O barbeiro não nasce infectado. Quando ele surge em uma casa, infectado, e não tinha ninguém daquela casa já infectado, a gente tem que entender onde é que esse besouro teve contato com o trypanosoma cruzi. É por isso que começamos a investigar os animais. Eu já tinha relatado casos em cães e agora, no meu doutorado, em caprinos, ovinos e no cavalo”, explica o profissional.
O pesquisador também realizou o sequenciamento genético do protozoário, que coincidiu com o mesmo sequenciamento encontrado nos insetos barbeiros e nos humanos.
“A partir disso, a gente pode afirmar que se trata do mesmo parasito e que essas espécies estão inseridas no mesmo ciclo”, afirmou o pesquisador.
De acordo com o profissional, o Rio Grande do Norte tem atualmente cerca de 15 mil pessoas infectadas com a doença de chagas.
O médico-veterinário ressalta que a presença do agente etiológico da Doença de Chagas nos animais não impede o consumo de carne, leite e outros derivados dos animais. Ele ressalta que a doença só é transmitida pelo inseto barbeiro.
“É importante deixar muito bem claro que os animais não são os vilões. Eles estão inseridos no ciclo de transmissão do qual inclusive o homem faz parte. Então não adianta matar animal, nem maltratar o animal. Ele é apenas uma sentinela. Se as autoridades em saúde querem saber se a doença está ativa em algum lugar, primeiro olhem os animais, porque se os animais estiverem infectados, muito provavelmente em um espaço de tempo você conseguirá identificar pessoas doentes também. Essa é a importância do nosso estudo: mostrar esses animais como sentinelas de novos casos”, afirmou o pesquisador.
Outro ponto na pesquisa de doutorado trabalhou com a identificação genética da leishmania no RN. Baseado em dados ainda não publicados, o pesquisador chamou atenção para o diagnóstico da leishmaniose em cães.
De acordo com ele, existem parasitos parecidos com a leishmaniose que podem dar reação cruzada nos exames. Dessa forma, o diagnóstico requer uma “atenção especial”, pois o resultado falso positivo pode resultar na eutanásia, sem necessidade, do animal.
“A gente propõe fazer um diagnóstico parasitológico junto com o sorológico e molecular, para que se possa determinar de forma mais precisa se os animais estão ou não com Leishmaniose”, pontuou
A Doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é transmitida ao homem através do inseto conhecido como barbeiro (Triatoma infestans). Ela pode afetar o coração e o sistema digestivo.
A transmissão pode ocorrer no contato com as fezes contaminadas do barbeiro, por via oral (com a ingestão de alimentos contaminados), de forma vertical (em que a mãe passa para o filho durante a gestação ou parto), transfusional ou até mesmo acidental.
Segundo o Ministério da Saúde (MS), a doença de Chagas pode se manifestar de em duas fases, sendo a aguda com apresentação de sintomas, ou não, e a crônica, que se torna mais crítica.
Na fase aguda, os sintomas que podem aparecer são:
Na fase crítica, a doença pode apresentar problemas cardíacos e digestivos.
Para evitar o contato com o inseto barbeiro, vetor da Doença de Chagas para os seres humanos, as autoridades de saúde alertam para que a população fique atenta com os cuidados dentro de casa.
Caso encontre o barbeiro, não o esmague ou manipule com as mãos. A orientação do MS é acionar equipes técnicas da Vigilância de Saúde locais para eliminar o inseto ou possíveis colônias.
Fonte: G1RN
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