PESQUISAS & ELEIÇÃO NO RN E NO BRASIL –
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano– [email protected] – blogdoneylopes.com.br
A divulgação de pesquisas é o momento mais torturante para os candidatos.
Cientificamente, a pesquisa é válida. Entretanto, em período eleitoral exige-se muita cautela para identificar os institutos idôneos e aqueles que “manipulam resultados” para inflar, ou destruir candidaturas.
Em eleição majoritária convivi com pesquisas em 2004, quando fui candidato a prefeito de Natal, RN, de “última hora”, para atender apelo do meu partido. À época tinha altíssimas chances de ser escolhido pela Câmara Federal Ministro do TCU, com o nome já aprovado nas comissões.
A cúpula do partido (então PFL) no RN fez apelo dramático e prometeu que, se perdesse a disputa de prefeito, estaria confirmada na eleição seguinte a minha candidatura ao Senado, um velho sonho. Acreditei, renunciei ao TCU e aceitei o desafio.
Um instituto de pesquisa me procurou e pediu valor em dinheiro para colocar o meu nome como favorito. Recusei.
No final, perdi a eleição e o compromisso da indicação partidária para o senado não foi cumprido.
Na tumultuada eleição de 2018 assiste-se com frequência a “dança” das pesquisas, que não é fotografia estática, mas sim filmagem ao vivo, dinâmica.
Na eleição de governador e senador no Rio Grande do Norte, os dados disponíveis nas pesquisas antecipam o segundo turno.
Um fato apenas deve ser considerado. A pulverização de votos (brancos e nulos) reduz o percentual de votos válidos e pode favorecer o candidato que está na liderança.
A prioridade dos oponentes de Fátima Bezerra deverá ser, portanto, levar o eleitor à urna.
Na disputa do Senado, tudo aponta para uma taxa de brancos e nulos maior do que nas últimas eleições estaduais, pelo fato dos eleitores não se sentirem contemplados, com os nomes apresentados pelos partidos.
O segundo turno no Estado sofrerá grande influência da eleição presidencial. Ciro ou Haddad na disputa poderão fortalecer Carlos Eduardo, ou Fátima, embora seja provável a aliança do PDT com PT.
Outra hipótese seriam os partidos de centro-direita, hoje comprometidos com a reeleição de Robinson Faria, migrarem para Carlos Eduardo, em razão do antipetismo.
Nesse caso prevaleceria o voto estratégico.
Mesmo assim, o resultado final da eleição estadual é imprevisível, salvo mudanças na reta final. Tudo poderá acontecer.
Na disputa presidencial vale lembrar que em 2014, duas semanas antes das eleições presidenciais, Marina Silva tinha 37% das intenções de voto, Aécio tinha 14%. Abertas as urnas, Marina não foi nem para o segundo turno.
No Rio Grande do Norte dois exemplos: em 2010, na disputa pelo senado, o empresário Fernando Bezerra era favorito absoluto nas pesquisas.
A atual prefeita de Mossoró, RN, Rosalba Ciarlini ganhou a eleição. Em 2014, o então deputado Henrique Alves chegou a liderar pesquisas, pela ampla margem de 40%. Terminou derrotado.
As eleições majoritárias no Brasil, desde 1994, foram disputadas entre PT e antiPT, o que se repete em 2018.
Faltando 18 dias para a votação, Bolsonaro se consolida na liderança e irá para segundo turno.
A pesquisa do Ibope divulgada nesta segunda feira coloca Jair Bolsonaro com 28% das intenções de votos, seguido de Fernando Haddad (PT), com 19%, Ciro Gomes (PDT), com 11%, Geraldo Alckmin (PSDB): 7% e Marina Silva (Rede): 6%.
Os números, até agora, demonstram que não parece viável a “carona” sonhada por Alckmin, de que a rejeição a Bolsonaro leve os antipetistas a apoiá-lo (voto útil), na reta final da campanha.
Outra vertente do “voto útil”, para evitar Haddad no segundo turno, consistiria nos eleitores que rejeitam Bolsonaro serem convencidos de que o petista é quem tem menos chance de vencer o candidato da direita, num segundo turno. Nesse caso, Ciro cresceria.
Nos últimos dias, Bolsonaro enfrenta desgastes, em razão das declarações do seu vice-presidente.
Agravou-se com a informação de que, Paulo Guedes, (o seu “guru econômico) foi apontado pela Justiça como um dos beneficiários de fraude que causou prejuízos à fundação responsável pela gestão da aposentadoria dos funcionários do BNDES, arranhando o discurso anticorrupção do candidato.
Por outro lado, o economista Pérsio Árida, de renome internacional, declarou à Folha, que Paulo Guedes é mitômano, nunca escreveu artigo acadêmico de relevo e jamais dedicou um minuto à vida pública, sem nenhuma experiência. Ademais é ultra privatista e defensor ferrenho da desmontagem do serviço público e do estado.
Nesse “vai e vem” de probabilidades eleitorais, a grande preocupação é a alta parcela de indecisos.
Na resposta espontânea das pesquisas, 32% não sabem em quem votar. Dos que optam pelo voto nulo ou branco, 61% dizem que não mudarão de opinião. Um grande risco, em relação à legitimidade dos eleitos.
Em qualquer hipótese, o desfecho da eleição presidencial parece girar em torno de Bolsonaro e Haddad (Ciro é o único que ainda ameaça chegar ao segundo turno).
Definição já no primeiro turno, não é previsível. Qualquer prognóstico de vitória no segundo turno torna-se absolutamente impossível.
Muita água ainda irá correr, em baixo da ponte!