PESSOA EM QUEM CONFIAR – Alberto Rostand Lanverly

PESSOA EM QUEM CONFIAR –

Recentemente Jesualdo embarcou em aeronave praticamente vazia, com destino a São Paulo, onde participaria de reunião importante, mas já pensando em encontrar uma “sugar baby” para aquecer lhe o corpo no tempo vago, quando na parada em Salvador, poucas pessoas se apresentaram, a maioria homens, havendo um deles sentado justo em sua fileira, mesmo com dezenas de outras vagas, e o pior, o olhava insistentemente.

Certo não ser aquela a companha que almejava, já incomodado com a atitude do baiano, sempre a o encarar, preparava-se para ser grosseiro, quando mansamente o cidadão falou: – O senhor é padre? A resposta foi: – porque seria?

O fulano que depois soube se chamar Jesus, completou dizendo tinha achado sua feição muito tranquila, usava anel em forma de terço e estava lendo best seller com conotação religiosa, que tem no filho de Deus seu pilar de sustentação.

E novo companheiro, não parou de falar. Contou estar indo a Porto Alegre e que semana anterior sua filha de três anos fora encontrada afogada em piscina, a esposa gravida, com o susto vivenciou complicado aborto, tendo retirado o útero, e bajuladores do posto político que ocupava, lhe desejavam paciência, pois podia ter sido pior.

Jesualdo somente escutava, até que finalmente chegou a Guarulhos, onde despediu da angustiada criatura. Dias depois, quase diabético pelo excesso de açúcar que experimentou, já embarcado de volta a Alagoas, avião novamente quase desocupado, quando embarcou bela jovem, daquelas de matar o velho e mirando-o com olhar dengoso, pediu licença para sentar-se bem ao seu lado. O ego do nosso herói foi as alturas.

Em pouco tempo travavam agradável conversa, principalmente quando ela confidenciou ser a primeira vez que voava, e estava indo a Maceió, tomar posse em emprego, para qual prestara concurso público, e não conhecia ninguém na cidade.

Todo animado, o lobo conquistador, já pensava em apimentados programas que juntos haveriam de realizar, quando a mocinha que por sinal chamava-se Maria Madalena, confessou-se um tanto nervosa, falando que antes da viagem, sua mãe a orientou para sentar ao lado de alguém em quem pudesse confiar, e como ali existiam poucos passageiros, o escolhera por tê-lo achado parecidíssimo com seu avô. Jesualdo, imaginando-se o Brad Pitt dos trópicos, quase morre!

 

 

 

Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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