Dalton Mello de Andrade
Estudei piano com Dulce Wanderley. Das poucas, e das melhores, professoras da cidade, no meu tempo. Na Escola de Música de Natal, vizinha à casa de meu avô, Vigário Bartolomeu esquina com a Praça João Maria – onde hoje é o Banco do Nordeste.
Uns seis ou oito meses. Com toda certeza, faltou pressão da minha mãe. Eram as mães que se preocupavam com essas coisas, naquele tempo. Ela tocava piano, mais eu nunca a ouvi tocar sequer um bê-a-bá. O piano que usava era da casa de meu avô. Mas a preguiça foi maior, meu gosto pela bola também, e abandonei o estudo. Se arrependimento matasse…Desenvolvi meu gosto por música. De todos os gêneros. Tenho minhas preferência. Bossa nova, jazz e clássica. E a ordem dos fatores não altera o produto.
Quando fui morar em Washington, quarenta anos passados, os órgãos eletrônicos estavam no auge. Sempre enxerido, me apaixonei pelos bichos e terminei comprando um. O cara da loja me convenceu que eu era um grande pianista e facilmente dominaria o instrumento. Na verdade, com os manuais e partituras, com o acompanhamento automático e alguns macetes, você vai se desenvolvendo e, embora não se torne um pianista, quebra o galho. Hoje, sem ter feito nenhum estudo sistemático e apenas comigo mesmo, até que dá pro gasto. O “meu” gasto.
Mas, sempre notei deficiências que me incomodavam, e incomodam. Vi um anuncio da Escola de Música da UFRN para um curso de piano para iniciantes. Palavra delicada para chamar você de analfabeto, como eu, e resolvi me matricular. Uma vez por semana, e já estamos na quinta semana. Estou adorando. Aprendendo coisas simples, para iniciantes, mas que vejo como me faziam falta. Sem nunca ter tido um professor antes – a não ser Dulce que, confesso, quando eu tinha em redor de dez anos, foi impossibilitada de me deixar alguma coisa – estou entusiasmado. Fico contando os dias para a próxima aula.
Tenho apenas um receio. É que, ao terminar esse cursinho, queira continuar. E, segundo tenho lido, um bom curso de Piano (com letra inicial maiúscula), leva vinte anos. Não sei se terei tempo mas, quem sabe, a responsabilidade de terminar o curso, que não tive com Dulce, talvez ajude.
Dalton Mello de Andrade – Ex-secretário de Educação do RN