PINCÉIS E CORES DA VIDA –
No atelier os pincéis não são únicos e nem do mesmo tipo de pontas e cerdas. No entanto, são eles os instrumentos de trabalhos de iniciantes e mestres que os utilizam em personificar as suas manifestações artísticas.
A pintura, como arte, faz parte da vida do ser humano desde o Renascimento e, ao expressar o sentimento que o artista pintor impõe consensualmente à sua obra, se mostra no seu todo, pelo conjunto de detalhes e nuances do feitio em uma tela. Isso impõe ao espectador a importância em vislumbrar cada segmento e, em seguida, formar a completude com a visão acolhedora da obra.
Num primeiro momento pode ocorrer que a expressão artística não desperte uma sintonia com o sentimento do autor, mas na contemplação atenciosa é possível que a mente, em si própria, atente para a real natureza da obra em contemplação.
Temos consciências diferentes por aquilo que já vivenciamos e fazemos relação com o compreensível, assim como inconsciências ainda não exploradas e certamente não fixadoras da chamada crítica contemplativa. Ao ver o que está latente e intocável no contemplado ao relacionar com o que percebe e sente pode despertar uma relação primária de afinidade pode enlarguecer o interesse em conhecer a obra e saber mais sobre o autor.
A arte para se expressar não escolhe lugar, porém o atelier é um espaço privilegiado em que as ideias ganham vida e dão ao artista um ambiente próprio para que a produtividade e a criatividade floresçam.
As tintas/cores na paleta, assim como os pincéis que esperam ser usados estarão sempre em alerta até que o artista comece a colocar o seu dom em ação. Cada cor assumirá um sentido específico. É sabido que as cores espelham toda a sensibilidade do pintor ao se expressar de forma única ou associada a uma outra, representando assim, a perfeita harmonia da linguagem não verbal utilizada pelo artista. Todas as cores estão ali, prontas para emprestar à obra a sua melhor expressão.
Cada pincel também espera ser ferramenta, mesmo que seja para um simples traço, para delinear uma lágrima, um sorriso ou um olhar. É efêmera a participação de um determinado pincel. Cumprida a sua missão é lavado e limpo, apagando todo e qualquer vestígio da sua parcela de contribuição para o todo da obra. Haveria de se orgulhar quando o observador se aproxima, então, da tela, e observa a sutileza de um determinado detalhe. O pincel, no entanto, sabe ser humilde ao reconhecer que é um mero instrumento nas mãos do pintor, pois ele não saberia o que pintar sozinho.
Também é belo saber que o pintor não encerra ali toda a sua capacidade criativa. Cada obra é única pela expressão de sentimentos envolvidos. Aquela cor, aquele traço, aquele detalhe, certamente não será repetido, ao menos, com aquela intensidade do caráter inspirador daquele momento.
Deus, como o maior pintor do colorido de nossas vidas, também nos pintou de forma única, dando às nossas feições características próprias que nos distinguem uns dos outros. Para isso utilizou, de forma exclusiva e individual, um pincel para cada um de nós.
A obra resplandecente de Sua autoria chama atenção pela beleza que trazemos, mas que insistimos em nos emoldurar apenas para deleite próprio. Entretanto, toda a beleza de Sua obra precisa e deve ser mostrada aos outros em forma de aceitação, respeito e entender que as cores dos outros são tão belas quanto as nossas.
A inspiração do Senhor, ao nos pintar, veio da Sua sapiência e amor. Portanto somos uma obra divina e, como tal, somos belos quando somos solidários.
Benedito Nunes (1929-2011), filósofo, professor, crítico literário e escritor brasileiro, em seu livro Introdução à Filosofia da Arte, afirma que “A obra é o acontecer da verdade porque é uma realização poética”.
Em nome do poeta, artista plástico e cientista social, macauense, Alfredo Neves, por suas telas cheias de cores e vida, eu saúdo todos os artistas pintores universais.
Como estão as cores da sua vida?
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])