POLÍTICA –

Assunto sempre presente quer em discussões entre amigos, quer na imprensa, a política é o que chama a atenção no momento, especialmente face aos últimos acontecimentos.

Afinal o que é política?

Consultando dicionários vemos sua definição:

1- arte ou ciência de governar

2- arte ou ciência da organização, direção e administração de nações ou estados.

Há, no entanto, quem a defina como sendo o exercício do poder.

O conceito de Filosofia Política nos dá uma visão mais clara do que seja: trata da convivência entre o ser humano e o poder. Analisa temas relativos à natureza do Estado, do governo, da justiça, da liberdade e do pluralismo.

Em resumo a política deveria servir para, além de organizar e administrar o Estado, promover e harmonizar o bem estar social de uma comunidade, entenda-se comunidade como sendo um grupo de pessoas que habitam determinada região autônoma, seja ela uma Nação, Estado ou Município.

Para tanto elegemos nossos representantes que devem, ou pelo menos deveriam, cuidar dos nossos interesses.

Cada qual, em sua esfera de atuação, tem a responsabilidade de apresentar e implementar soluções objetivas, abrangentes, que resolvam os diversos problemas que envolvem o estado além de mediar interesses distintos tendo sempre como norte o bem estar comum.

Ações de curto, médio e longo prazos que promovam o desenvolvimento tanto econômico quanto social e, neste assunto, que se reduzam gradativamente as desigualdades.

A política hoje é um jogo de interesses que em nada representa o que efetivamente precisamos.
Vivemos, deixo claro que não é de hoje e agravado recentemente, numa eterna espera de acomodação de situações sejam elas políticas, financeiras, jurídicas ou mesmo a próxima eleição que, infelizmente, resultam em quase nada.

A pandemia teve como um de seus tenebrosos resultados a revelação da imensa desigualdade social e o seu agravamento.

Pelas discussões em curso, especialmente a econômica, vemos que os interesses de nossos representantes em nada tem a ver com o que a sociedade necessita, estão sim muito preocupados com a pavimentação da nova campanha eleitoral que se aproxima.

O índice de desemprego já não mais preocupa; a reforma administrativa e tributária perderam sua importância; empresas quase falindo e seus colaboradores aguardam discussão sobre verbas parlamentares e quantos às vacinas o empresariado já está correndo atrás, um absurdo!

Esse é o cenário, são os fatos que estão ocorrendo ainda que o discurso seja aparentemente diferente.

Nenhum plano de contingência foi pensado, quer ao longo do ano passado ou no início deste, para enfrentar nova onda de contaminação e suas consequências.

Em nenhum momento percebo preocupação com as reais necessidades da nação que, apesar de antigas, agravaram-se na pandemia.

A situação me leva analisar a questão política como o paradoxo do valor que, em tempos passados, levou pensadores como Copérnico, Platão e Adam Smith sucumbirem na tentativa de sua explicação: porque uma garrafa de água vale menos que um quilate de diamante?

Água é mais importante e útil do que o diamante!

A relação antiga sobre o assunto relacionava o valor a sua utilidade e importância, deixando quaisquer outras questões de lado.

Essa questão foi melhor explicada partir da ¨revolução marginalista¨ na ciência econômica que suplantou a Escola Clássica dando origem a escola neoclássica e posteriormente à Escola Austríaca de Economia.

Refiro-me aos princípios da utilidade marginal decrescente e da teoria subjetiva de valor.

São questões eminentemente técnicas para iniciados não para iniciantes como eu porém, cabe uma explicação, simples, para melhor entendimento da coisa sem entrar no detalhamento das teorias que hoje são amplamente difundidas.

Na Escola Clássica a causalidade de valor se dava no mesmo sentido da produção ou seja: a cadeia de produção que envolve recursos primários, semi processados, materiais intermediários e mão de obra resulta num produto final onde o custo, inerente dessa cadeia produtiva, resultaria no seu ¨valor¨.

Na Escola Austríaca esse valor é subjetivo, o seu custo não será determinante, a sua utilidade marginal, definida pelo consumidor é que definirá o seu ¨valor¨efetivo.

Com isso, o valor em sí não flui na direção da produção e sim no sentido contrário, ou seja para o grau de importância que é dado pelo consumidor.

Em resumo na Escola Clássica o vetor (vou chamar assim, seta que indica direção) vai na direção da produção e, na Escola Austríaca, esse sentido é invertido por conta da visão do consumidor.

Pois bem, trocando em miúdos e trazendo para a política, estamos nós como a Escola Clássica indo de encontro à utilidade e importância nas ações de governo, isso em todas as suas esferas.

Colocamos a ênfase na eficácia dessas ações para o bem estar comum ainda que, por conta de regiões distintas, tenhamos variações nas mesmas.

Para a classe política, vejo esse vetor voltado para interesses distintos dos da sociedade como um todo, privilegiam de sobremaneira os interesses próprios (raras exceções) ou de grupos de interesse, especialmente quando temos eleições à frente.

Não quero generalizar pois alguns projetos privilegiam sim a população muito embora, numa análise mais profunda, são projetos mais amplos que não interferem nas suas ambições próprias.

Os interesses comuns estão cada vez mais esquecidos tanto pelo executivo quanto pelo congresso.

A percepção é clara: a disputa é pelo poder, quem manda mais e, num sentido muito mais perverso, o sequestro de verbas orçamentárias com vistas a interesses políticos, principalmente o eleitoral.

O congresso tem como funções: representar, legislar e exercer o controle e fiscalização e não administrar e executar o orçamento.

Não resta dúvida que estamos convivendo com crises profundas, econômica e política, agravadas ao extremo por uma pandemia, gerando insegurança quanto ao futuro próximo.

Chama à atenção que classe política está vivendo, aparentemente, em um mundo à parte, afastado anos luz da realidade.

Parece que não existe nada além de sí própria, da instituição e do mercado financeiro. Não há mais povo!

A vida real não ocorre nas redes sociais e nem é refletida pelo BOVESPA, ela percorre ruas, estações de transportes coletivos, supermercados, vielas e favelas além de tantos outros lugares onde não existem ¨emojis¨.

A economia política deverá levar em conta a utilidade e importância dos gastos públicos para o bem comum, não cabe mais essa inversão de valores custeada por vidas que se perderam e um exército de desempregados e outros tantos vulneráveis, reflexo da indiferença, incompetência e insensatez na condução da nação.

Não é o momento de buscar culpados e sim soluções reais para um mundo real.

Somos todos responsáveis pelas consequências de decisões que venham a ser tomadas, cabe a nós, pessoas reais, exercermos nossos direitos e assumirmos nossas responsabilidades exigindo, pelos meios cabíveis, medidas concretas e efetivas para debelar não só a pandemia.

Pode não haver futuro saudável a persistir tamanha desordem.

Não pode mais existir a política como fim em si mesma ou apenas para seus atores.

 

 

 

 

 

 

Roberto Goyano – Engenheiro

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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