Do Choque Liberal para Fazer Crescer ao Populismo Recessivo que Faz Chocar –
Notícias sobre a conjuntura econômica dos últimos dias:
– PIB cai pelo segundo trimestre seguido e Brasil entra em recessão técnica;
– Recessão ameaça trabalho e renda do brasileiro em 2022;
– Mercado financeiro aumenta previsão da Inflação e passa a prever crescimento menor no PIB.
– CVM abre processo administrativo envolvendo a Petrobras, embora estatal afirme que não há decisão sobre queda no preço dos combustíveis;
– Dólar fecha em alta e no maior valor desde abril;
– Expectativas para nova alta dos juros com reunião do Copom deixam marcado agitado.
Diante desse “pacote de instabilidades” tão peculiar ao desempenho recente da economia brasileira, não há planejamento que resista. Até mesmo para quem simplesmente maneja sua própria coluna de opinião para tratar sobre temas relacionados à economia. Afinal, como seguir um roteiro para os textos, quando a gente é bombardeado diariamente com informações e resultados como esses? É preciso priorizá-los nas análises.
Mais uma vez, peço descuplas ao leitor por alterar o roteiro prévio, pois não há como perder a oportunidade de comentar os temas que causaram estresses nos distintos mercados, há menos de uma semana Afinal, nada pode ser pior que indicativos fortes, que apontem para a recessão, inflação, desemprego, concentração de renda, pobreza e fome. De propósito, nem citei aqui o novo patamar da taxa básica de juros, que deve ser anunciada hoje à beira dos dois dígitos, num recorde preocupante e a perder de vista. Este, um mal necessario, que cabe como uma estratégia justa nesse ambiente de insanidades políticas, mesmo que num esforço solitário do Banco Central, de tentar segurar a disparada dos preços.
Não bastasse esse triste retrato de um caos econômico que, no meu entender, não há como revertê-lo no curto prazo (com todas as manobras populistas abençoadas pelo processo eleitoral antecipado), a insistência por artifícios fiscais que reacendem o ímpeto pelo gasto público abusivo, é mesmo de causar espanto. Um exemplo é essa excrescência da PEC dos precatórios, manchada que está pelo caráter inconstitucional, pela agressão fiscal e pelo populismo assumido.
O tempo é “compositor dos destinos”, como diz Caetano na letra de uma das suas músicas consagradas. De fato, para quem lembra do início dos trabalhos da atual equipe econômica sobre a proposta de um “choque liberal”, em nome do crescimento, o que se tem assistido é outro roteiro. Para se manter no “caetanear”, a percepção do que se constata na economia mais parece o impacto daquela “dura verdade de Sampa”. Ou seja, “aprende-se de pressa a chamar-te de realidade, porque és o avesso, do avesso, do avesso, do avesso”. O fato é que a economia está desgovernada, sem controle, como um trem descarrilhado. Que o digam as dezenas de trocas ocorridas na equipe econômica.
Embora creia que até exercício de mágica seja algo estéril, que o título da obra do filósofo Wolfran Eilenberger sirva de consolo: “tempo de mágicos”. No fundo, o autor se referiu a quatro filósofos da década de ouro do século passado, mas a referência à magia cabe-me aqui como uma luva. E ainda sugiro como nomes indispensáveis para serem idolatrados Fu-Manchu, Harry Houdini, David Blaine e a estrela da magia, David Coperfield.
Talvez possam dar um jeito. Por o trem nos trilhos e retirar números mais alvissareiros das suas cartolas. No mais, que Deus nos acuda.
Alfredo Bertini – Economista e colunista da Folha de Pernambuco