A INGLÓRIA MARCA DOS 200: ENTRE A IMPERTINÊNCIA DAS CÉDULAS E A IGNORÂNCIA DOS CRÉDULOS –
200. Duzentos. Duas centenas. À primeira vista, qualquer forma de registro tem lá sua expressão. Pode ser uma tradução quantitativa marcante, quase sempre levada pela grandeza dimensional. Mas, pode não ser bem isso.
Acontece que, no Brasil de hoje, esse marco sinaliza para outra ordem de grandeza, naquilo que podem ser os feitos resultantes de ações públicas mais recentes. Assim, na minha simples condição de agente do cotidiano social, não me sinto nada gratificado com esse registro que aqui faço sobre a marca dos 200. Justo pela impertinência e ignorância dos atos que lhes transmitem esse sentido duro, frio, que deixa muitos brasileiros sem entender tantos erros e omissões.
O primeiro marco dos 200 foi a criação de uma cédula que expressa esse valor enquanto moeda. Na essência dos contrastes nacionais está o tamanho da impertinência da medida. Entre 5 milhões de brasileiros da faixa dos 5% mais pobres, que têm renda média mensal menor que 85% do valor de face cédula, bem como, outros tantos milhões que fazem uso de um mercado cativo de operações financeiras digitais, encontro sentido para mais um erro da equipe econômica do governo. Certamente, dezenas de milhões de brasileiros não farão uso da mesma. A impertinência das cédulas dá robustez à tese.
O outro marco dos 200 é simplesmente trágico, porque ressalta a gravidade de uma pandemia, na qual o poder público não soube enfrentar e, por conseguinte, não consegue se livrar dela. O marco consagra, de uma vez só, tudo que pode ser expresso pela incapacidade no reconhecimento e no trato de um problema de saúde pública do porte da pandemia. Atingir a inglória e dolorosa marca de 200 mil óbitos representa o suprassumo de uma ignorância, que foi capaz de tornar crédulos desse morticínio, uma seita anestesiada pelos algoritmos do negacionismo à ciência.
Entre a impertinência das cédulas e a ignorância dos crédulos, o Brasil consagra os 200 como um novo marco inglório da sua História.
Pelo menos, isso se deu antes de 2022. Calma. Não é por conta das eleições. É porque há outro marco dos 200 na parada: o da independência.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco