PONTO DE VISTA DE ALFREDO BERTINI

A REVISÃO ÉTICA NO MOVIMENTO DO “EMSIMESMISMO” –

Como expressa o título, a proposta do “emsimesmismo” representa um esforço pela releitura da ética, diante do dúbio comportamento do brasileiro. Antecipo que não há nenhum vínculo psicanalítico, ao estilo freudiano, como pode exprimir o fenômeno similar do narcisismo.

O mito grego de Narciso, um jovem arredio ao amor, que se apaixonou por si mesmo após ver sua imagem refletida na água, é algo comum hoje. Só que o reflexo do espelho na tese do “emsimesmismo” pregada nada tem a ver. Diferente dos versos de Caetano, nessa defesa Narciso é outro e “NÃO acha feio o que é espelho”.

A ideia “ensimesmista” constitui um desafio ético, tal e qual o anel de Giges, a fábula platônica que deu enredo à nova obra de Giannetti, que me causou inspiração. O “ensimesmismo” é um movimento que representa a antítese do realismo machadiano. E sobre um juízo imediato de ser algo narcisista, o que cabe aqui é o recurso de um olhar no espelho, puro e simples.

Sem se ver num outro e abdicada a força do ego, tem-se aqui o primeiro passo do alcance da ética, que se reflete a partir da imagem de si mesmo. Nesse gesto, a busca é pela autenticidade. De se reconhecer por meio de valores pouco praticados, mas que pela rotina dos atos individuais serão alcançados benefícios coletivos.

Claro que essas posturas individuais não trarão sozinhas as mudanças. Valem como testes de validação. É simplesmente pensar e por na prática o que muitas vezes se prega. A (r)evolução ética está em tomar atitudes simples: não furar filas, não colar na prova, não corromper fiscais e não levar vantagens inescrupulosas. Isso é romper com o refrão piegas do “brazilian way of life”: o “jeitinho” de ser e agir.

A tarefa é árdua, mas factível. Tão ou mais difícil é saber que a consagração do movimento “emsimesmista” ficará ainda à mercê de outra necessidade coletiva. Refiro-me a importância de se lutar por um modelo de desenvolvimento que faça da educação, cultura e ciência os vetores efetivos da mudança social.

Rejeito a distopia reinante. Tenho consciência que a utopia que nasce do “ensimesmismo” levará o abraço de uma geração com a ética. Vital é começar.

 

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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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