IMPRENSA LIVRE: ENTRE O MILENAR EXEMPLO DA COMUNICAÇÃO OFICIAL E A RESISTÊNCIA DEMOCRÁTICA II –
No texto anterior, evidenciei que as divergências de opinião entre a mídia e os governantes têm lá suas ancestralidades. Por mais que tenham existido espasmos de controle e até supressão da liberdade de opinar, a lição histórica revela que, na maioria das vezes, a democracia resistiu. Afinal, enquanto o jornalismo conseguiu sobreviver e até se transformou, por mais longevos que tenham sido, os governos tiveram seus prazos de validade.
Nessa extensão histórica, chega-se nos dias atuais a uma nova situação conflituosa, por demais polarizada. Não bastassem os fatores tecnológicos que mostram a contextualização derivada desse mundo digital e virtual, somam-se aspectos essenciais decorrentes de uma certa soberania do indivíduo. Ou seja, a potencialização das redes sociais propiciou a “desconstrução” de muitos valores que pautam o jeito convencional de fazer jornalismo. Pôs-se sob risco o conceito factual do que seja verdade.
Diante de tantos impactos, mesmo que ainda impliquem em dúvidas e questionamentos, acho lamentável que nessa vontade de se “construir uma verdade”, muitas vezes a que se quer fazer valer, outras “verdades” sejam abandonadas. Até mesmo em cima de sutis contradições, suficientes para tornarem duvidosas suas próprias essências ideológicas.
Nessa linha, em primeiro plano, confesso não entender como “nacionalistas” e adeptos da “liberdade econômica pelo empreender” conseguem imaginar a liquidação de grandes corporações da mídia nacional. Longe de uma discussão que envolva conteúdos, não compreendo tamanha contradição, ao perceber que críticos de empresas nacionais esquecem histórias empreendedoras. E até mesmo a capacidade delas favorecerem a geração expressiva de empregos e rendas. Ou seja, qual o sentido desse êxtase ideológico de tirar de circulação a mídia impressa ou alguma rede de televisão, que fizeram suas histórias setoriais e que contribuíram, direta e/ou indiretamente, para a formação da nação?
No próximo texto, irei me ater, especificamente, nas resistências corporativas da centenária Folha de São Paulo e a competente Rede Globo.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco