O COMANDANTE DA PORTEIRA E A PORTA DE COMANDO: LIÇÕES DA IMAGINÁRIA TOSVÊNIA –
De volta ao imaginário dos exercícios civilizatórios da recém-criada Tosvênia, entre os toscos e tolos constituídos, há novos exemplos por revelar. Assim, depois do que já expus aqui em texto anterior, agora o povo tosveno assiste a uma pitoresca situação de dois líderes palacianos.
Por um lado, diante daquela investigação relativa ao morticínio gerado pela doença desconhecida, tomou vulto o depoimento do principal comandante responsável pelas políticas de enfrentamento desse problema. Como um bom general estrategista e combatente, dele se esperava ouvir algo firme sobre suas ações efetivas. Jamais embromações .
Por outro lado, causou espanto à maioria sensata dos tosvenos, o fato do condutor da política ambiental confirmar sua condição de adversário da causa que deveria ser a essência da sua conduta gestora. Um contrassenso de postura, justo quando o mundo mostra e ensina valores diferentes.
Nesses dois contextos, parece mesmo que o governo e seus aliados daTosvênia agem como outras pares semelhantes de nações conectadas a esse mundo virtual, excessivo e abusivamente algoritmizado. Quem sabe alguma outra república, talvez situada abaixo da não menos imaginária linha equatorial. Isso se for válida minha dedução do servilismo dogmático que meros cidadãos se entregam nas redes.
Isto posto, aqui surge uma reinvenção civilizatória, pautada por esse novo tipo de ambiente, capaz de forjar narrativas que fortalecem uma verdade quase sempre inverossímil, irreal ou fantasiosa. Um exercício onde os toscos e tolos daTosvênia praticam suas soberbas mórbidas em forma de psicopatia. Com elas objetivam uma supremacia de negações e intolerâncias, diante de quaisquer formas que se mostrem divergentes pelo caminho. Saiam de baixo os contraditórios.
Pobre Tosvênia, cujo homem forte da política ambiental transmite sua soberba, seja em reuniões ou atos, numa postura de “comandante de porteira”, apenas disposto a deixar passar a boiada das infrações ambientais. Antes, na sutileza de assistir ao gado atravessar o portão, enquanto o povo tosveno se entregava às dores do morticínio instalado. Depois, no escancaramento de atitudes agora julgadas suspeitas pelas instituições judiciais, policiais e de controle.
Se o comando da porteira assim age numa área polêmica como o meio ambiente, a porta de comando para enfrentar a crise sanitária se segura à sua conveniência, sem gestos de sensibilidade e empatia. Abre-se e fecha-se ao sabor dos interesses seletivos do seus comandos. Diz-se uma coisa e faz-se outra. O discurso é dialético e se pauta nas instigantes contradições. Embora seja simples dizer que “o chefe manda e o subordinado obedece”, entre ter ou não plano de imunização e vacinas, está o dito pelo não dito. Em cena, as mentiras que persistem e até se renovam. E no bojo dessas contradições, homens públicos, entre políticos, técnicos e militares, vêem-se entregues às fraquezas das dissimulações. “Ernestamente”, passou-se a “pazuelar” em plena Tosvênia. A “feiquização” é irradiante e também se alimenta de embromações, por mais que essas atitudes não sejam condizentes com a formação dos soldados tosvenos, de qualquer escalão.
Renovo que esta história é mais uma parábola. E que qualquer semelhança que possa existir na real, deve ser mera coincidência. Afinal, toscos e tolos (imaginários) só mesmo na república tosvena.
Data venia e ipso facto.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, ex-presidente da Fundação Joaquim Nabuco e colunista da Folha de PE