OUVIR O POVO VALE UMA UNIVERSIDADE… –
Quando expressei minha admiração por Ariano Suassuna, Gilberto Freyre e Nélson Rodrigues fui instigado por amigos a ampliar o leque. Teria outros? Poderiam sê-los do Nordeste?
Permitam-me começar pelo Rio Grande do Norte. Por razões familiares e pela possibilidade de atender a uma promessa. O texto servirá como contribuição ao blog do jornalista Nélson Freire, que sempre me concede espaços generosos para publicar.
Essa minha admiração por uma referência intelectual potiguar não poderia ser diferente: Luís da Câmara Cascudo. Lembro-me da surpresa que tive ainda na adolescência. Foi quando, na estante de uma das bibilotecas das escolas que minha mãe coordenava, deparei-me com sua obra maior – o “Dicionário do Folclore Brasileiro”. Depois desse primeiro contato com aquele livro denso, muito tempo depois pude entender seu valor, extrato da sabedoria vinda do âmago do povo, que corrobora a verdadeira “ciência anti-demagógica da cultura popular”. Apesar da erudição na escrita, Cascudo fez questão de ouvir seu povo e falar por ele.
Por esse lado “popular” ele foi pouco considerado por outros “intelectuais”. No sentido pejorativo do termo, fizeram-no um “folclórico”, justo ele que defendia o “folclore” como a junção de todas as culturas, conforme suas obras. Nesses aspectos do preconceito acadêmico e na extensão da obra autoral, Cascudo se junta ao Filósofo Mário Ferreira, que tem sido aqui uma das minhas referências. Ambos, intelectusis esquecidos, embora sejam os dois mais prolíficos autores brasileiros.
Outro intelectual que se aproxima na essência à obra de Cascudo é Gilberto Freyre. Aqui não destaco apenas a identidade “cascudiana” de quem expressou “o brasileiro como o melhor produto do Brasil”. Partindo dessa singularidade que também abraça o valor da miscigenação “freyriana”, reforço os valores nacionalistas que vêm da culinária e do regionalismo. Se a nacionalização se projeta pelo paladar, por se prender às suas raízes, ambos transformaram seus vieses regionais em exemplos universais.
Nada mais “cascudo” para um erudito que não fosse da estirpe de Luís, para admitir que “ouvir o povo vale uma universidade”.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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