O Bode Assiste do Sofá ao Futuro Repetir o Passado –
A arte também costuma ser profética. Nas suas mais distintas manifestações, é mesmo muito comum lidar com expressões de predição. Reporto-me aqui ao senso poético de Cazuza, que entre tantas indignações extraídas das letras de suas canções, duvidava se o nosso futuro não se resumiria “a um museu de grandes novidades”.
Pois bem, o que se observa neste Brasil da segunda década de pleno século XXI, no curso de uma “revolução digital” presente em cada quadrante deste mundo redondo, é um festival de incredulidades com cara de retrocesso. Aliás, um fenômeno que não escolhe segmentação na sociedade, pois como se fosse o ar, está onipresente. Ideias e feitos de um passado que parecia esquecido, voltam à tona, mesmo que possam desafiar uma lógica ditada pela evolução criativa ou o vigor científico e tecnológico.
Os fatos recentes da política brasileira confirmam bem tamanho retrocesso. Assiste-se a tudo. Da involução dos costumes aos esforços por resgates inúteis de temas já superados. O que emana dessa ideologia parece repetir algo que se viu no longínquo ano do meu nascimento – 1961. Nesse sentido, um certo clima do puro extrato do “janismo” foi restaurado e paira nos ares, ávido pelo acolhimento de alguns gabinetes poderosos de Brasília. Aliás, no próximo dia 25, registram-se os 60 anos do recuo daqueles ideais janistas, em larga medida restaurados por essa nova epifania exercida pelos seus fiéis acólitos.
A diferença é que nos dias de hoje, o ideário desse retrocesso se propaga mais rápido, devido à incontinência verbal e à militância virtual do que aqui chamo de “exército digital de prontidão”. Vale dizer que, nesse modelo, forja-se uma verdade própria, que ao se impor como uma narrativa frequente e insistente, revela-se intolerante a críticas e contrapontos. O conflito faz parte desse teatro do horror, encenado com base em velhos roteiros.
Bem, algumas recentes encenações políticas estiveram envolvidas com dois absurdos em forma de retrocesso democrático: a impressão do voto e a aposta no chamado “distritão”. Este último, com direito ao intruso “bode posto na sala”, devido ao restauro das coligações proporcionais.
Antes de quaisquer comentários, cabem questões genéricas sobre a oportunidade e a urgência de cada tema. A primeira que me parece óbvia é saber sobre a relação da oportunidade com algum histórico de fraude no sistema eleitoral. Ou seja, existiam fatos comprobatórios ou sob investigação que revelassem que as urnas eletrônicas estavam submetidas às fraudes? Por outro lado, também seria oportuno, após mudança recente que valeu apenas para uma única eleição (a última, de 2020), alterar as regras eleitorais, com a prevalência do voto distrital? Ou, por extensão, inserir como apêndice de discussão, o retorno das coligações? Não há cabimento para tanta esparrela.
Embora entenda que as respostas para essas questões não justifiquem sequer alguma oportunidade plausível, assumi-las como prioritárias diante de outras questões urgentes de interesse público, parece-me mais um afronta retórica, que só se alimenta do discurso ideológico vigente. Nem caberia uma, nem muito menos a outra.
Mas, no país que é um laboratório do surrealismo kafkiano, as cenas de vale-tudo são comuns. E não importa se a prática frequente massageia egos políticos e põe sob riscos instituições e sistemas democráticos. Nisso, por exemplo, a vontade do voto impresso só revela mesmo a impressão de se criar factóides. Um contexto que, não só gera a polêmica e o conflito, assim como, permite o discurso pronto, para daí justificar ou uma derrota ou um rompante autoritário.
Nessa linha de se fazer o diferente e negar o sistema político-eleitoral, mudar as regras do jogo para tornar o indivíduo superior ao coletivo partidário tem a mesma essência. E uma vez que nesse ímpeto não vingou a tese do “distritão”, ter “carregado um velho bode nas costas”, para apresentá-lo na sala como instrumento de barganha, serviu como uma jogada derradeira para impor o retrocesso. E o caprino aguarda sentado no sofá.
Valho-me, novamente, de outros versos de Cazuza, para me inserir numa outra perspectiva, que tomara não seja derradeira. A parte lúcida da sociedade brasileira, mesmo que “cansada de correr na direção contrária e sem pódio de chegada”, sempre expressa alguma esperança. Afinal, “não vale se achar derrotada, porque há quem saiba que os dados rolam e o tempo não para”. Quem sabe até para os que insistem com o bode.
Alfredo Bertini – Economista e ex-secretário nacional do audiovisual e de infraestrutura do Ministério da Cultura
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