O fascínio do 10 e as distintas dimensões dos números –
Na universidade, tive um professor de introdução à economia que chamava a atenção para um importante registro. Segundo ele, algo muito importante e que justificaria a perda de pontos, em situações de avaliação. Dizia ele que devíamos inserir a dimensão ou a medida exata das variáveis e delas saber como precisar o tempo. Assim, nenhun número pode se manter isolado, seja no espaço ou no tempo. Se for 8 ou 80, é preciso que se especifique, na intenção de se dizer o que de fato cada número representa.
Na universidade, tive um professor de introdução à economia que chamava a atenção para um importante registro. Segundo ele, algo muito importante e que justificaria a perda de pontos, em situações de avaliação. Dizia ele que devíamos inserir a dimensão ou a medida exata das variáveis e delas saber como precisar o tempo. Assim, nenhun número pode se manter isolado, seja no espaço ou no tempo. Se for 8 ou 80, é preciso que se especifique, na intenção de se dizer o que de fato cada número representa.
Com isso em mente, recordo-me que, nesses últimos dias, o número 10 me trouxe algumas lembranças à evidencia. Em três distinta situações, senti-me preso no entendimento da expressão ou do real sentido que cada 10 me impunha àqueles momentos. Em uma delas, percebi que poderia relatá-la aqui no texto, vinculada à lembrança instrutora do meu professor sobre a questão dimensional. A segunda, simplesmente caberia como elo, além de alguma consistência para dela se reconhecer um ofício digno de muitas homenagens. Por fim, a terceira seria apenas uma referência para o retoque final. Assim, o 10 já me garantiu o amálgama que precisava. Sigo direto para os fatos.
Aquela lição da sala de aula representa bem uma realidade econômica, que agora ressurge com o mesmo nível de preocupação: a retomada de inflação. E o nexo disso está no alcance de uma taxa na casa dos 10. Ou melhor, 10,25%, atingida no acumulado de 12 meses (setembro/21), de acordo com o Índice Nacional de Preços do Consumidor Amplo (o IPCA do IBGE). Portanto, uma dimensão que superou a taxa de 10% pela primeira vez, desde fevereiro de 2016 (10,36%). Na minha consideração analítica de hoje, o índice alcançado não exprime um número real e absoluto operado como se estivesse num módulo, conforme se aprendeu nas aulas de matemática. Mais do que isso, pois o número corresponde a um registro, que está sujeito a uma medida e por determinado período de tempo. Essa é a tal dimensionalidade que me foi tão alertada pelo professor. Na essência das teorias sobre inflação, revela o significado de uma tendência dos preços se colocarem em alta.
Revivido o aprendizado, isso me fez reforçar a ordem de grandeza de um problema econômico, que trouxe à cena um velho filme, em forma de drama e terror. De fato, dadas as duas cestas de bens e serviços consumidos pelos brasileiros, a medição que causou em um ano esse impacto se fez mais afetada pelos chamados “preços administrados” do que pelos ‘preços livres”. Afinal, somente entre os itens relacionados com a energia elétrica e combustíveis, a variação anual se deu na faixa de 28% a 64%. O vilão maior não foi diretamente o mercado, onde os preços estão livres. De certo modo, a responsabilidade também recai sobre cada uma das agências reguladoras, a quem compete a missão autorizativa.
Por sua vez, o outro lado da minha vinculação com o 10, não tem mesmo dimensão, no sentido matemático, estatístico ou de qualquer outra referência das científica. Daquela boa lembrança do mestre, de tantas outras que absorvi em salas de aulas (nas diferentes fases de aprendizado) e, até mesmo do legado materno, a expressão do número 10 é meramente uma nota convencional. Contudo, de um significado extremo, em se tratando do valor de cada professor ao longo das nossas vidas.Todas as referências e reverências cabem aos mestres, na semana que se comemora o seu dia.
Bem, entendi que esses dois registros deram a liga desejada, o nexo e a causalidade ideais, pelo protagonismo do professor. Mas, o número 10 me trouxe outro significado, que não cabe à análise despretensiosa que aqui me propus. Essa outra referência se coloca apenas como ferramenta de desfecho do texto e a cito porque tem lá alguma sintonia comigo. O número 10 aqui está sacralizado em duas camisas que o carregam nas costas e que extraí de jogos de futebol.
Trago esses casos para ilustrar uma breve recordação do que significa vestir uma camisa que tem história. E são dois exemplos que se inserem de modo diferente. Por um lado, ver um atleta sem vocação e talento atuar pela seleção brasileira, justo com o peso de uma camisa que já deveria estar aposentada. Lembrar do rei e outros súditos e hoje assistir um certo Paquetá, não tem mesmo dimensão. Por outro, ressalvo uma jovem promessa, camisa 10 à moda antiga, que em nome de um talento emergente, trouxe-me de volta qualidade técnica.. Que o diga essa revelação chamada Gustavo, que veio da base do Sport.
Tudo isso me aconteceu como uma boa lembrança do 10. Mas, nada pode ser tão perfeito que, mesmo tratado de um modo diferente, não possa dizer aqui que o alvo desejado foi alcançado.
Cada 10 está referenciado, conectado e no seu devido lugar. Serviu-me de crônica cotidiana.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco