A obsessão educacional: responsabilidades e protagonismos –
Voltar ao tema da educação não é apenas um exercício de compromisso, na defesa de um projeto sustentável de desenvolvimento econômico. É também um desafio político cabível aos verdadeiros líderes. E não só para aqueles que valorizam e defendem a causa da educação. Mais do que isso, é preciso que estejam engajados por meio de estratégias efetivas, dado o objetivo de por o país num patamar de indicadores mais tolerantes que os atuais. Estes, sobejamente inapropriados, justo por dar sentido ao flagelo que é a educação brasileira. Portanto, parece-me vital um compromisso real, que nos permita um desempenho melhor, em todos indicadores educacionais medidos por órgãos nacionais e internacionais.
Neste simbólico 15 de outubro reservado aos nossos mestres, trato aqui de dois aspectos especiais para o desafio que costumo destacar como uma “obsessão educacional”. O primeiro deles, diz respeito à dimensão da responsabilidade que se tem por fazer. O outro, corresponde aos protagonismos de quem, especificamente, terá que fazer.
Por essas linhas, ponho à baila um papel que julgo elementar nesse processo. De tão relevante que é o drama do tema, sou favorável à adoção de uma legislação mais rígida, no sentido de se impor cobranças quanto à responsabilidade assumida pelos gestores da política educacional. Por mais rigorosa que possa ser a exigência, não poderia deixar de citar claramente os protagonistas. Afinal, eles são (ou precisam estar) imbuídos do propósito de uma real transformação socioeconômica, algo que só a educação é capaz de promover.
Diante de um quadro adverso, conforme revelam os indicadores, não há dúvidas de que o Brasil precisará impor doses maiores de responsabilidade. Somente pela ótica do PISA, nos últimos 20 anos, os números têm flutuado em torno das últimas posições. E o pior é que há 10 anos esse quadro é de pura estagnação. No entanto, há uma luz de sobrevida que pode ser alimentada através de algumas doses de responsabilidade. Essa disposição exige a presença de lideranças renovadoras, comprometidas com a causa, capazes de agirem a favor da continuidade, da cobrança rigorosa por resultados e, até mesmo, das punições.
O ideal seria resgatar o projeto do competente deputado Raul Henry, lamentavelmente “engavetado” na Câmara dos Deputados. Não basta apenas um simples resgate, mas desse gesto se derivar um pacto político, suficiente para entendê-lo como uma “lei de responsabilidade educacional”. Como assim defende o parlamentar e que, particular e discretamente, conta com meu modesto entusiasmo e apoio. Um instrumento que, executado por verdadeiras lideranças da causa, possa não só corroborar algum cumprimento básico do Plano Nacional de Educação, assim como, criar as condições da continuidade.
Tamanha responsabilidade precisará também do respaldo de líderes que façam e aconteçam. Em complemento, exercido esse controle social focado na qualificação do ensino, o protagonismo paralelo cabe a quem faz do seu ofício um sacerdócio. Independente dessa condição tão digna, é essencial reconhecer a missão docente como algo que vá além dessa e de outras limitações. No dia em que hoje se celebra o papel do professor, além das justas homenagens, todo reconhecimento possível para um protagonismo, bem mais meritório, quanto seja recompensador. Os novos líderes e gestores precisam ter o pleno engajamento dos docentes em pauta, numa clara percepção de que crer numa educação transformadora é vestir a camisa dos que querem a obsessão educacional como caminho.
O Brasil ainda tem uma notória fome de futuro. Para poder saciá-la, a educação é o principal nutriente. Um meio capaz de garantir a sobrevida.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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