De volta ao passado, mas de olhos abertos para o futuro –
Iniciei a semana com uma saudosa visita à Suape, que comemorou no dia 07/11, seus 43 anos. Aqui comigo, posso até admitir uma certa familiaridade com esse referencial econômico de Pernambuco. Isso se deve a algumas razões tão pessoais, que aquela visita me pareceu um simples retorno. E mais confortado fiquei, pela recepção calorosa do presidente e amigo Gusmão, bem como, pelo vislumbre de novos e animadores cenários.
Meu envolvimento com Suape se deu ainda quando universitário, uma ano após à formalização do projeto como uma empresa pública (1979). Fiz parte de um grupo de estudantes de economia, destacado para acompanhar “in loco” e em relatórios escritos, a evolução do projeto. Tempo de muita polêmica, quando já se impunha sobre o mesmo algumas questões relativas aos impactos ambientais. Questionamentos críticos esses, que permitiram adequações e compromissos ao longo do tempo.
Depois dessa etapa, Suape volta ao meu cotidiano profissional para que o considerasse, dentro de uma visão estratégica de um plano de governo. Isso se deu em 1990, no embate eleitoral de então, quando tive a responsabilidade de compor a equipe do candidato Joaquim Francisco. Como governador eleito em 1991, dele recebi a missão de ser o presidente da estatal aos 29 anos, num desafio que muito me ensinou. Afinal, estava à frente de um projeto prioritário, estratégico e, por conseguinte, de enorme interesse público. Devido à essa missão profissional, quando volto os olhos para o passado, relembro do nascedouro de situações, hoje impregnadas no cotidiano de Suape. É daí que consigo extrair, por exemplo, o quanto foi importante duplicar a rodovia PE 60 e dar início efetivo às operações conteinerizadas do cais multiuso. Hoje, faz bem à minha lembrança ter estado no pólo de fruticultura do Vale do São Francisco e de lá ter conseguido meios para acontecerem as exportações através dos primeiros “full containers”, operados à luz dos faróis dos caminhões.
Velhos tempos que contrastam com o ritmo de desenvolvimento que foi implantado por todos governos estaduais, indistintamente. No cômputo geral, os compromissos em torno de Suape foram nas cores alvi-azulinas de PE, sem essas intrigas ideológicas e partidárias que hoje assistimos atônitos, espalharem-se pelo país.
É com esse mesmo espírito de equilíbrio que afirmo agora o que pude constatar nessa visita recente. Faz todo sentido perceber que existe ainda um compromisso em nome do desenvolvimento, que agora se revela mais ajustado com a realidade econômica desse mesmo mundo, no qual Suape se integra como um referencial do nosso comércio exterior. Um ajustamento à realidade que se pauta pelo envolvimento de um ciclo de inserção produtiva afinado com o modelo econômico que dita as regras do jogo: inovação tecnológica, serviços logísticos e sustentabilidade.
Nessa direção, pude ver o nível de engajamento da atual gestão com esse novo ciclo, através do volume de investimentos públicos e privados em iniciativas como: 1) um terminal de regaisificação a partir de uma infraestrutura para receber um navio indústria (investimento de R$ 1,2 bi); 2) novo terminal de tancagem para atender demandas de GLP, o gás de cozinha (investimento de R$ 1,2 bi); 3) retomada do ramal ferroviário da Transnordestina por meio de investimento privado de grupo exportador; 4) planta de produção de “hidrogênio verde”; a ser viabilizada pela empresa francesa Qair (investimentos de algo como R$ 20 bi, para geração de energia elétrica limpa); 5) consolidação do pólo de produção de medicamentos com a chegada da Blau Farmacêutica; é, 6) consolidação do “hub” de veículos importados.
São perspectivas animadoras que tornam Suape um projeto estratégico diferente. Apesar dos desafios operacionais (como as tarifas portuárias) que não geraram obstáculos para se ter recordes com movimentações de contêineres e volumes de importados, a agregação desse olhar futuro ajuda ainda mais a traduzi-lo como vital para o novo paradigma de desenvolvimento estadual. A conferir.
Alfredo Bertini – Economista e colunista da Folha de Pernambuco