Suape e o compromisso histórico em nome da sustentabilidade –
De volta ao tema do “ser plenamente possível” conciliar desenvolvimento econômico com compromissos em nome da preservação ambiental, da diversidade cultural e dos avanços sociais, espelho-me à realidade histórica do Complexo Industrial e Portuário de Suape, que transpassou distintos governos aqui em Pernambuco.
No exercício profícuo dos valores democráticos, a ambiência saudável de ideias, por mais que estas sejam antagônicas, costuma gerar resultados. Por isso que a conquista do consenso representa o melhor extrato do mais árduo ofício de ponderação. Argumentar em cima de ideias, com as devidas e precisas reflexões, podem trazer boas surpresas. Se não a mudança de opinião, alguma forma de adaptação. Embora Keynes tenha dito que, “a verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas escapar das antigas”, acima da resistência mais rija pode estar a arte do convencimento.
Digo isso porque, no caso particular de Suape, quanto lá estive como Presidente, no longínquo ano de 1991, enfrentei válidos questionamentos sobre o impacto ambiental do referido projeto. Longe de qualquer sentido pragmático de excludência ou modelo teórico de “trade-off”, coube decisão ao então gestor ou economista (juvenis, para ambas as funções) a busca pelo consenso, pelo equilíbrio. Seria salutar para o Estado a opção desenvolvimentista do projeto, mas que jamais perdesse de vista abusos extremos (impensáveis e não compensáveis) ao ecossistema, numa defesa comum de um futuro sustentável para as gerações dos anos 2000. Mesmo que “aqui ou acolá” deslizes possam ter ocorridos, o importante foi uma consciência compensatória que contribuiu para tornar os impactos ambientais toleráveis e suportáveis. Diga-se de passagem, que esse esforço foi coletivo, no sentido de que os governos, por diferentes que fossem nas suas ideologias, souberam segurar com sensatez as adversidades.
Hoje, não me admiro quando constato que a empresa Suape segue no avanço, em termos de políticas sustentáveis. Posturas assim, que evidentemente se espalham em tantas empresas públicas e privadas, retiram o estigma daquele rótulo ou pecha de que toda empresa é uma contumaz agressora ambiental. Ou mesmo, para dar mais um verniz ideológico a esse falso argumento, que não ser sustentável é algo que está solidamente impregnado nos ditames do capital. Ledo engano. É preciso desmistificar essa tese e daí continuar a apostar e cobrar compromissos com o futuro.
Bem, lá atrás, o engajamento a favor da pauta ambiental estava fortemente comprometida com o reflorestamento compensatório pela ocupação dos espaços portuário e industrial. Se hoje esse compromisso com o chamado “viveiro florestal” já rendeu até prêmio internacional (de autoridade portuária que conserva seus recursos naturais), a política de sustentabilidade da empresa avança noutras direções. Além do alcance do selo de “amigo do oceano”, Suape desenvolve outros projetos que buscam dar sentido e consistência ao moderno conceito ESG. Patrocínios que abrangem a diversidade cultural e compromissos com comunidades ou pessoas com vulnerabilidade social, que estão abrigadas pela área de influência da empresa, são evidências incontestáveis.
Assim, a partir do que pude constatar numa empresa pública aqui da região, percebo o quanto é importante que compromissos sustentáveis se espalhem pelo país.
Se esse exercício de visão de futuro foi plantado há tanto tempo, o melhor disso é perceber hoje que toda essa grandeza temporal foi fundamental para se chegar tão longe. Com Suape comprovando a cada ano que é mesmo possível o desenvolvimento com responsabilidade social e ambiental.
Alfredo Bertini – Economista e colunista da Folha de Pernambuco