Momento Especial Para Duas Notas Econômicas –
Turismo e PiB em Pauta
Hoje, pela oportunidade dos temas e restrição de espaço, tenho que me imbuir de uma missão diferente, em termos do que tradicionalmente exponho aqui na coluna. Caberia que cada tema contasse com seu espaço próprio, mas o momento exige esse esforço tão diferente quanto os próprios temas. Assim, a pauta será um aspecto importante do turismo (que não pude discorrer na coluna anterior) e uma atitude cabível sobre a conjuntura econômica, relacionado com os últimos resultados do PIB.
TURISMO >
No texto anterior, fiz uma conexão de algo para mim bastante defensável: as interações entre turismo e cultura, diante do exagero na dose “marqueteira” da venda quase exclusiva do “sol e mar”. De fato, é preciso encontrar nos valores culturais uma espécie de catalisador, no sentido de se acelerar uma compreensão do quanto o turismo ganhará com tal aposta. Um pouco mais de cultura, visto pelo olhar do espírito portenho de Buenos Aires. Ou mesmo, por outros “climas” do traço cultural, como se demanda em Paria ou Nova Iorque. Iniciativas assim fariam alguma diferença, por mais apropriada que seja a vontade por fazer acontecer esse olhar. E guardadas as devidas situações, não faltam ao Brasil e ao Nordeste, em particular, riqueza e diversidade para se optar. Na mais pura realidade, faltam mesmo decisão política e visão empreendedora para se fazer a inflexão.
No entanto, não basta apenas inovar nessa direção, por mais óbvia que pareça ser para a sociedade. Afinal, não adianta vender destinos turísticos, sem que os turistas possam se encantar pelos mesmos. E o exercício de sedução cabível ao marketing precisa ter o respaldo das iniciativas de preparação profissional, de treinamentos bem direcionados. De novo, o papel educacional é colocado na berlinda. Muito embora que, neste sentido, esteja associado ao fato do despreparo no atendimento turístico ser consequência de uma formação técnica ou superior ineficaz e desintonizada com nossos valores culturais.
No geral, o que faltam mesmo são serviços de qualidade em muitos produtos turísticos ofertados. E, na falta dela, pesa muito mais o marketing “boca a boca”, que hoje se agigantada pelas redes sociais. Pior: isso joga para a vala comum do desperdício, todos investimentos públicos e privados direcionados para se vender os destinos. Infelizmente, essa tese advoguei quando estive em funções públicas relacionadas e ainda se sustenta porque quase nada de efetivo foi adiante.
Portanto, uma outra lição necessária para nosso desenvolvimento turístico está no desafio geracional de inovar na formação dos profissionais que fazem parte de tal cadeia produtiva. Sem esse esforço de superar todas resistências, o pouco que o setor absorve não muda a realidade dos fatos.
PIB >
Claro que todo sinal de avanço nos indicadores de crescimento econômico são dignos de comemoração. E contar com um registro acima de 4% é algo formidável.
Acontece que as aparências enganam, sobretudo, quando se olha para números. A estatística, em si, prescinde não só de percepções visuais. Cabe também para se interpretar os números, em especial, quando séries históricas permitem esse esforço. Não apenas pelo olhar presente com base no passado. Mas, também pela visão de se projetar o futuro.
Diante disso, cabe entender que o PIB recentemente anunciado como resultado de 2021, não revela apenas sua expressão. Como vetor resultante de estimativas das contas nacionais é preciso enxergá-lo como algo dinâmico. Não se trata de um número estático e ponto final.
A verdade nua e crua é que o avanço obtido em 2021, apenas anula a queda brutal de 2020. E como 2022 se projeta como algo próximo de zero, para efeito de crescimento econômico, o resultante disso tudo se chama “marcha lenta” ou “risco recessivo”.
A magia dos números tem lá seus efeitos ilusórios.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco