Equação para a Utopia Realista de um Futuro Melhor: O Brasil Tem Pressa –
Ações Públicas Emergenciais + Plano Estratégico de Desenvolvimento = Ambiente Sustentável + Humanização
Faço uso do refrão de uma canção pertencente ao repertório sertanejo da dupla Leandro e Leonardo, para rogar em nome de uma inflexão que vire a chave, na intenção de um futuro que a nação brasileira ainda espera. Assim, o pais clama: “pense em mim, chore por mim, liga pra mim e não liga para ele(s). O plural deste pronome é o diferente e faz sentido, porque “eles” são os velhos discursos que, contaminados ou não pelas práticas políticas populistas, têm contribuído para uma inércia que torna o futuro uma conquista inalcançável. Palavra maldita e mortiça.
Particularmente, confesso que tenho meus momentos de profumda desesperança, em torno do futuro do Brasil. No entanto, vale dizer que o tempo, este velho senhor da razão, também impregnou em mim a certeza de que sua passagem, ano após ano, ao ser reveladora de traços mutantes, abre espaços para o que Rutger Bregman chamou de “utopia para realistas”.
Diante desse conceito, apesar de descobertas, vivências, desacertos e decepções, minha esperança resiste tanto e quanto a de muitos outros brasileiros. Se, na minha trajetória de vida, diante da percepção de falhas econômicas, omissões políticas e injustiças sociais, pude ser capaz de tudo isso reconhecer, qual seria o sentido agora de negar a esperança, nem que fosse agora uma derradeira tentativa? Afinal, penso que ainda cabe algum esforço de superação, que possa ser municiado pela emoção de acreditar (utopia), mesmo que disciplinado pela razão
de saber como se limitar (realismo).
Dado esse jeito improvisado de fazer o Brasil acontecer a cada dia, sou mais um cidadão que crê na tese de ser este país um caso exemplar de desenvolvimento e modernização incompletos. De que nunca deveríamos ter ficado à mercê de alguns exemplos de “salvadores da pátria”, que imbuídos na essência populista, atuam como governantes que não colocam a sociedade numa trilha sustentável de desenvolvimento. Se para esse fim há um desejo represado de se evidenciar o poder soberano do Estado, no fundo a sociedade precisa de lideranças políticas que saibam se encontrar na missão de estadistas.
Com base nesses principios, a equação que pode definir melhor o futuro representa a soma de ações emergenciais (que enfrentem os desafios conjunturais do curtíssimo prazo) com um plano efetivo e real que aponte para um novo modelo de desenvolvimento. Esse lado da equação precisa ser balanceado pela soma de um ambiente sustentável em todos os niveis com uma forte ponderação em torno da humanização.
Em síntese, por um lado, a “arrumação” se dá por meio de políticas públicas, que assumam um esforço emergente em nome da estabilidade econômica, política e social. Isso tudo, em sintonia com um plano estratégico que encare os desafios de uma modernidade avassaladora.
Por outro lado, todo esse empenho está direcionando para a conquista de ambientes sustentáveis e que tragam, nos seus bojos, relações humanas mais fortalecidas.
Na próxima coluna, explicarei melhor o tamanho desse desafio e a capacidade transformadora da sustentabilidade e da humanização. Desses pressupostos, já se percebe a importância da relação do homem com a natureza e, por extensão, dele próprio com os seus semelhantes. Nisso, preservar o meio ambiente e fortalecer a educação, através das inovações científico-tecnológicas e criativas (via cultura), são o melhor caminho.
O Brasil ainda se mantém na fome de desenvolvimento. E precisa ser feito agora por ele próprio.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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