Como Enxergar Outro Modelo de Desenvolvimento se a Cultura Agoniza?

A Ignorância Sobre o Papel da Política Cultural Compromete o Futuro

Isso mesmo. A dimensão e a difusão da ignorância sobre o impacto hoje da economia da cultura representa um viés de comprometimento do futuro. Por maior que seja o ceticismo de grande parte da sociedade, que confunde quem faz cultura e mobiliza fatores de produção, com quem consome cultura e se satisfaz.

De fato, meus leitores já devem estar acostumados aos eventuais comentários que já fiz aqui na coluna. Também em livros, artigos, palestras e aulas. Em todas as situações, sempre me atenho na quebra de falsos mitos criados contra essa capacidade produtiva do setor cultural. Os efeitos dessa má contribuição dos incrédulos, só promovem os defeitos das atitudes e dos atos que reforçam a extensão de tanta ignorância.

Para ser direto no assunto, desconsiderar o sentido estratégico dos valores identitários da cultura, ou mesmo, irrelevar os fluxos de renda que exprimem sua grandeza econômica têm sido erros crassos, sobretudo, no atual governo. Nesse ritmo, amparados por políticas públicas em 3 D (desconhecimento, desinformação e desleixo), podem significar também a quebra de um dos pilares do que se projeta hoje como modelo de desenvolvimento. É a confirmação do 4D (destruição), na qual a imposição ideológica sobre os que empreendem na cultura, ao consumar a agonização e o morticínio, faz-se confirmar o desinteresse por rever o atual e fracassado modelo de desenvolvimento.

O ímpeto desse modismo estúpido chamado de “desconstrução” tem sido um golpe mortal sobre a cultura. Exemplos? Em primeiro plano, são os ataques e impropérios dirigidos à Lei Rouanet. Todo feitos por informações falsas ou mal interpretadas, conceitos equivocados e instruções normativas desconexas, burocratizadas e até homicidas. Ademais, o veto às duas outras leis de emergência (Aldir Blanc e Paulo Gustavo também representa o desejo por um ataque mortal. Outra referência um está na própria ignorância, que subestima o valor econômico dessas atividades. Por fim, passam por longe da concepção de setor estratégico, porque sequer sabem distinguir o próprio papel público constitucionalmente estabelecido. Neste caso, o que convém abrigar pelo incentivo fiscal, em complemento aos casos de dependência direta do orçamento, via fundo constituído (FNC) ou não. Na essência dessas políticas distintas, algo cuja sutileza torna míope este ou qualquer governo refratário e ignorante: a identidade cultural. Nada mais soberano do que isso. Mas, o que vale é ignorar e marchar na direção dos ataques mortais.

Enquanto essa “marcha fúnebre” parece ser comemorada, quem produz através do uso decente do que se imagina restar dessas politicas, submete-se à terapia do terror. Os produtos ficam à mercê da falta de representatividade das comissões de avaliação, da burocracia irritante e até da desaprovação ideologicamente tendenciosa.

Asfixiados, os produtores assistem abismados a cultura submetida a um paradoxo. Sob o silêncio conivente do governo, outros produtos tipicamente comerciais submetidos ao acolhimemto de dinheiro público direto, originado de minguados e comprometidos orçamentos. Um achincalhe para uma maioria esmagadora, que capta bem menos, nos rigores da legislação e mediante uma renúncia fiscal cujo benefício só é concedido no ano seguinte. Aa contradições também se firmam na alçada pública. E parte da sociedade insiste em não quere enxergá-la.

Por essas e outras, torna-se difícil acreditar no poder da cultura como pilar de um outro modo de desenvolvimento.

 

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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