Plus D’Équilibre, Monsieur le Ministre –
Deselegâncias Indiscretas e Embates Diplomáticos Francofóbicos: Como Pleitear o Nobel?
O velho protótipo de quem tudo resolve, à semelhança da fama midiática daquele posto da esquina, voltou ao protagonismo político.
De pronto, o senhor ministro da economia foi confortado no seu ego imodesto, com uma sugestão inapropriada. Um gesto que corrobora o repertório dos recorrentes impulsos do Excelentíssimo e da sua tropa. Ao se indicar o ministro para o Nobel, justo quem tem contribuído para uma economia instável, o resgate do binômio miséria/fome e o câmbio ideológico em nome do populismo político, parece-me um escárnio.
Esse protagonismo bem representa a velha anedota de que o Brasil é o “país da piada pronta”. Cabe-lhe a lembrança daquela dúvida sobre a seriedade do Brasil, cuja frase coube a “de Gaulle”, mas que partiu da reação do embaixador brasileiro em Paris, diante de outro desgaste diplomático, nos idos de 1963. Outra com a França.
Some-se a isso novo desdém com o regramento das instituições internacionais. Neste caso, aplicado junto ao comitê do prêmio Nobel da Academia de Ciências da Suécia, seria bom ir além do que o ministro tem feito na sua política econômica. Uma pequena pesquisa sobre sua contribuição científica e suas relações com o meio acadêmico não o habilitam para tal pretensão. E pior: como a comunidade científica reagiria a um agraciado que, na condição de ministro da economia, proporcionou os maiores cortes das politicas públicas voltadas para a educação, ciência e tecnologia?
Outro protagonismo foi exercido pela mera vontade do senhor ministro. Além da deselegância e do desprezo diplomáticos inerentes ao governo, a agressão francofóbica serve também como ponto desfavorável naquela sugestão para o Nobel. Nesse aspecto, refiro-me à extensão da descortesia que foi dirigida à França. Seu gesto inconsequente soa como uma agressão contra uma nação historicamente amiga e parceira. Enfim, requentou uma conversa e demonstrou toda sua francofobia. Numa pseuda defesa da soberania amazônica, a postura do senhor ministro foi de “apertar o botão da empáfia mal educada”.
À parte algumas doses de “supremacia cultural” que certos franceses costumam destilar, notar a indisposição de um ministro da economia, que fez questão de expelir sua francofobia, foi algo demais da conta. Pior que essa arrogância pública contra a França, pelo bel prazer de considerá-la com a devida irrelevância, foi demonstrar um fugaz desconhecimento, da História e até da Economia.
Por um lado, pela necessidade de se entender as lições históricas e delas se exteair o respeito que a França merece. Por outro lado, faltou ao governo uma introspecção sobre o que acontece internamente com as relações econômicas. Afinal, não lhe seria defensável atacar uma nação que investiu e tem gerado milhares de empregos pelo Brasil. Simples assim: a França é “apenas” o maior empregador estrangeiro do Brasil e o terceiro grande investidor no país. Que deslize, senhor ministro.
Por tudo isso, vale forçar a barra pelo Nobel? Menos arbítrio, excelentíssimo. Mais equilíbrio, senhor ministro. Nem 8, nem 80.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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