O Outro Lado dos Diminutivos para Fatos Econômicos Efêmeros –

A Realidade do Aumentativo das Incertezas Dominam a Economia Mundial

Um problema de grau parece tomar conta do atual ambiente político brasileiro. Apesar do rigor linguístico nos ensinar que esse tema seja derivado de um senso de tamanho em relação à média (se maior ou menor), é fato corrente que tal recurso de linguagem tem sido usado para passar alguma ideia de afetividade ou desprezo. Em se tratando do atual governo, a motivação está no desdém a tudo aquilo que não se afina com seu ideário. São exercícios de autocracia.

Quem não lembra do início da pandemia que, ao dar expressividade ao lado desumano e cruel da crise sanitária, teve que tolerar as faltas de empatia? Refiro-me às reações do principal líder político constituído, que tratou a agressividade viral, sem quaisquer arrodeios e em rede nacional, como uma despretensiosa “gripezinha”.

Recentemente, como resposta elegante aos arroubos que ferem e sangram a democracia, a sociedade organizada se manifestou, através de uma carta reativa, assinada por um milhão de adesistas. Qual foi a resposta presidencial ante à difusão da mesma? Tratar o documento como uma “cartinha”, cujos signatários eram “caras de pau” e “sem caráter”. Outra notória demonstração de desprezo.

Claro que uma reação pacífica diante de tanta grosseria, seria pautar uma resposta pelo mesmo uso do diminutivo, embora num contexto de elegância e afetividade. Poderia ainda reagir no aumentativo, sem perder a linha. De qualquer modo, entendo que é também cabível usar a mesma moeda, talvez em cima de questões pontuais e efêmeras, que bem gostaria o governo de sacralizá-las como meios e formas de um universo particular aumentativo. Faço-me explicar melhor abaixo e tomo como exemplo a “comemoração” na redução de preços dos combustíveis.

Antes de qualquer demonstração de política vitoriosa, cabem explicações reveladoras do caráter pontual e efêmero dos resultados. Algo que vai além de um intervencionismo exercido sobre a políticas fiscais de estados que compõem um modelo federativo.

Na modelagem da atual politica da PETROBRAS, fundamentalmente, o preço dos derivados acompanha a queda do petróleo no mercado internacional. Esta tendência está dada pelo risco de um ciclo recessivo, devido às altas nas taxas de juros nos mercados. Somem-se a isso as distintas preocupações com a demandas oriundas da China, bem como, do próprio aumento da oferta de petróleo por parte da Arábia Saudita e do Irã.

Vale até dizer que, para essas três baixas de preços conduzidas em um mês aqui no mercado interno, existiam outras motivações vindas de fora e que poderiam resultar numa queda ainda maior nos preços. Isso porque o preço médio da gasolina praticado no Brasil estava ainda 10% mais caro do que no Golfo do México, bem usado como parâmetro pelos importadores. Aqui mesmo, no Porto de Suape, chegou-se ao nível de 14%. O que foi uma redução de R$ 0,18 poderia ter alcançado R$ 0,34 na bomba.

Cabe reafirmar que tal comportamento não garante nenhum sinal de estabilidade. As Incertezas pairam no ar e atingem toda economia mundial. E aqui dentro, diante dos recorrentes desencontros da política econômica, o cenário é de muita insegurança. Isto é o sinal da mais pura realidade, traduzida pela intenção aumentativa, seja qual for o termo que caiba nessa situação.

Mas, como exercício de contraponto e para manter o padrão obcecado do governo, sigo no apelo aos diminutivos. Não considero vitoriosa a queda do preço dos combustíveis e seu efeito na revisão da projeção inflacionária. Dada a ordem das incertezas, melhor tratar esse possível fato efêmero como uma mera “quedinha” nos preços. E diante de uma expectativa de resultados futuros de crescimento, que cabe ainda ser valorizada apenas como um “pibinho”. A conferir.

 

 

 

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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