A Insensibilidade que Assusta os Mais Frios Agentes do Mercado –

A Falta de Empatia com a Fome e os Maiores Parceiros Comerciais

O gabinete maior do Planalto e seu núcleo econômico da Esplanada continuam a brincar com situações que exigem mais seriedade. Essa rotina grosseira de exercitarem e estamparem inimizades, ao se expressar com diminutivos e desdéns, já passou do ponto. O danado é que não percebem as consequências de cada atitude, no que deveria ser a intenção maior: a estabilidade do país. Nada mais vital para a economia.

Causa espanto o fato da autoridade maior vir a pública e dizer que “não existe fome para valer no Brasil”. Como assim? Será que pela situação de não se ter esquinas no plano piloto de Brasília, não se consegue extrapolar na percepção de uma retomada onipresente da miséria? Será que o garoto Miguel encenou para a polícia mineira, ao pedir socorro pelo 190, devido à situação de uma geladeira desabastecida? Bem, diante da adversidade social mais emergente e indignante, o melhor que se diga agora é pedir desculpas e assumir a “subnutrição cerebral” e uma outra geladeira – a do coração desumano.

Não bastasse o habitual desdém, pontificado pela simulação de uma asfixia, quando seus “patriotas” lutavam para escapar da morte, dessa vez corroborou sua falta de empatia com os miseráveis. Isso se chama aporofobia, status que aqui ignora o vazio no estômago dos quase 33 milhões de brasileiros. Pode-se até questionar a ordem de grandeza desse número, mas isso é fato inegável e está inexoravelmente posto a olhos vistos nas esquinas do país. Reflete, pois, o abandono causado pelas políticas públicas, que apenas valida a miséria e insegurança alimentar. Ou, a extensão do negacionismo à realidade da fome. Faltam humanismo e atitude diante de uma vergonha nacional tão escancarada.

Por outro lado, há uma outra dimensão do desdém, que se revela numa insensibilidade capaz de assustar os mais frios agentes do chamado mercado. Refiro-me ao desmantelo de uma política externa, cuja maneira de lidar com as práticas comerciais deixa a diplomacia brasileira em estado de alerta.

O ato recente, da parte de quem foi o “posto da esquina”, que se supunha ter soluções para tudo, repete as cenas explícitas de aversão aos chineses. Isso se chama “sinofobia”, mais uma postura titubeante que atinge o maior parceiro comercial do Brasil. Depois da soberba de atacar a França, com palavreado incondizente com um cargo de ministro, replica agora sua grosseria, justo com críticas ao que, contrariamente, costumava defender – a liberdade de movimento do capital.

0 que dizer aos protagonistas sobre toda essa empáfia? Simples: muito cuidado com tanto desmonte. Afinal, a soberba incontrolável costuma ser um pilar estrutural da maldade.

 

 

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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