O Silêncio que Envergonha a Cena Política –
Como Rever o Futuro pela Omissão de Planos de Governo Consistentes com a Realidade?
Não é só pelo silêncio programado que planos deixam de ser compartilhados. Muitas vezes, essa estratégia da omissão embute uma boa dose de desdém, para quem acha mais estratégico negar qualquer esforço por planejar. E daí fazer o que bem pensa. Nada mais propício para esconder o viés autocrata, com propostas populistas, seja qual for o último suspiro dos extremos.
Creio que um embate político para ser democrático prescinde de planos com pluralidade de ideias. E a exigência legal para isso, que está determinada pelo TSE, reforça essa vital soberania da diversidade de propostas. Na legitimidade desse impulso, o ideal seria que o descrente revisse sua rejeição por planos. Afinal, é preciso saber lidar com propostas, exercer escolhas e cobrar por tudo que se julgou como ações exequíveis
Pena que se viva hoje em tempos, nos quais qualquer ato de resistência para mudar de ideia, pode ser visto como consequência de não se ter em mente tantas ideias para mudar. Não estamos só plebiscitários ou maniqueístas nas nossas disposições, corrompidos pela ditadura do sim ou do não, entre a cruz e o diabo. Enquanto membros de uma sociedade submetida aos apelos de tantas teses irracionais, estamos sim sob a ameaça de domínio de um conceito mais amplo que evidencia a ignorância. Por maior que seja o supremacismo debochado que faz com que muitos sigam o abominável estado de “imbrochável”, por trás dessa postura sempre está um ambiente de “eunucos”, que costuma propíciar uma infertilidade cognitiva em perfeita sintonia com uma sensibilidade estéril. Com isso, quem pensa, planeja e propõe não cabe na “caixinha” da plena ignorância. Ou melhor, fica de fora da(s) bolha(s) que não enxerga(m) o país pelas lentes do futuro.
Explico melhor esse cenário politico que dá consistência ao processo eleitoral em jogo. A inércia que bem explica a resistência da polarização é reflexa de um pragmatismo suicida, que ignora planos capazes de mirar o futuro. Seja no olhar pelo retrovisor ou na baixa visão do que acontece por perto, para que servem planos sobre apostas ou tendências futuras? Segue-se, assim, o jogo que transforma eleição em plebiscito e plano de governo em conversa fiada ou algo desprezível.
Como bem retratou uma das matérias políticas tratadas na segunda-feira passada por esta Folha de PE, os planos de governo se mantêm ignorados pelo eleitorado, conforme informações extraídas de estudos do DataSenado. Isso se dá em considerável magnitude, justo por causa da falta de interesse na discussão de problemas e, por conseguinte, em desconhecer os planos dos adversários. Num simples olhar das agendas dos cansidatos há explicações. De um lado os que apostam em motociclestas e planques: a política que não chega à realidade. De outro, os candidatos que vão às distintos e entidades da sociedade civil e debate propostas.
Por isso, insisto na reflexão do voto. E não no imediatismo do lavar as mãos, que esquece o futuro e aposta todas as fichas no presente. No sim ou no não.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco