As Expectativas da Economia se Rendem às Urnas –
Quais os Níveis de Incertezas Gerados pelos Eventuais Resultados Eleitorais?
Lembro com enorme saudosismo da festa democrática que se assistia no dia das eleições presidenciais. Mesmo que diante do incipiente despertar afetado por uma liberdade antes negada, o exercício civil e patriótico em torno do compromisso com o voto transformava o dia das eleições em fato marcante. Faz parte do lado bom da minha e de tantas outras memórias.
No entanto, de 2014 para cá, um clima de medo e agressões mútuas mudaram aquela face de alegria para uma outra de tensão. Tudo decorrente de um maniqueísmo violento, que causou um impacto inicial e que hoje mais parece com uma “rotina assustadora”. Assistem-se, para deleite de aloprados, às mais estúpidas cenas de violência geral, que na política se ratificam como o auge do “nós contra eles” ou do “sim ou não”. Uma situação que já tomou um vulto irresponsável, posto que é repetida diariamente, como se trivial ela fosse. Se os resultados de eleições mais tranquilas tinham lá suas incertezas e inseguranças quanto ao futuro da economia, imagine-se agora nesse clima de conflito tão exasperado.
Esse cenário de insegurança econômica, por mais que os protagonistas tenham se esforçado nessa semana pré-eleitoral, consagra duas verdades: 1) que, nunca antes na história deste país, as urnas se tornaram tão decisivas, tá ok? 2) que, tão logo os resultados apontem para alguma decisão, muito será necessário para entender a rota da estabilidade prometida.
As urnas hão de dizer se a polarização foi efetivada de verdade, mas, para a confirmação do que restará desse embate, caberão aos analistas de plantão interpretar as lições e os sinais que poderão advir da equipe econômica. No caso de continuidade do governo, a tendência será se ajustar ao que aí está. Com pouca possibilidade de uma guinada liberal. Na opção contrária, uma provável confirmação fiscalista, até por raiz ideológica.
O danado é que nessas apostas, dentro de uma perspectiva de curto prazo, tudo igual: fiscalismo de circunstância ou mais ideológico. Ou seja, pouco compromisso com a estabilidade macroeconômica e ausência de planos estratégicos, que já deveriam estar alinhados e divulgados. A percepção técnica da economia ficará, pelo menos no curto prazo, submetida aos arranjos politicos. O médio e longo prazos dependerão desse contexto.
Ao se mirar para as outras duas candidaturas em disputa, a diferença está no item 2. De posse de planos estratégicos distintos, vencidas a soberania das urnas e suas consequências políticas de um ajustamemto também nos moldes fiscalistas, desenham-se outras opções, mais programáticas.
Um dos planos (Ciro), sinaliza para o que o próprio candidato aponta como ruptura do modelo. Seria uma espécie revisada de um estruturalismo que exagera no papel publico, até mesmo, no que é dito como prioridade máxima – a reindustrialização. Só não se sabe até onde essa inspiração se sustenta, haja vista a grandeza do desequilíbrio fiscal. A outra opção (Tebet), diferencia-se da anterior por ums preocupação não menos estratégica, mas que se apoia noutro eixo de desenvolvimento. Talvez um olhar mais sintonizado com todas as transformações vivenciadas pelo mundo.
Enfim, um quadro desafiador, no qual as urnas falam mais alto e exigem do eleitor uma percepção de futuro que precisa ser encarada. Conforme a consciência de cada um, penso que simplesmente apertar o botão, representará um ato cívico de muito significado. Os dedos de cada um apontarão para suas escolhas. Mas, o início de qualquer solução para as carências da sociedade dependerá do que se pensa e enxerga a respeito.
A atitude é pensar antes, olhar na tela e mirar no futuro.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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