A Estabilidade da Economia e os Ativos da Democracia –
Valorizar a Institucionalidade, Ampliar o Espectro e Moderar o Discurso
Em defesa do equilíbrio da análise que a coluna se propõe, claro que nesse contexto também não posso fugir de um dos pilares constitucionais incrustado em cada artigo da nossa Carta Magna. Aqui me refiro à institucionalidade democrática, um valor cívico que nos custou caro para recuperá-lo e, por conseguinte, preservá-lo.
Como percebo que o país chegou ao ponto de colocar em risco a democracia, seguindo o que bem escreveram Levitsky e Ziblatt sobre as possibilidades de morte anunciada dos regimes democráticos, prefiro tratar o conteúdo de hoje, a partir desse compromisso constitucional tão precioso. Bem, que caiba a carapuça em quem enxerga algum viés ou desequilíbrio na minha análise, pois seguirei no propósito de valorizar os ativos que fortalecem a democracia e garantem maior estabilidade econômica. Quem estiver alheio a tais preceitos, lamento.
Na mais pura realidade dos fatos políticos, sequer basta a percepção dos riscos à democracia. Para que a economia se sinta o mais longe possível dos sobressaltos, é preciso ir além. O primeiro passo é valorizar a Institucionalidade, ou seja, fortalecer os pilares que dão sustentação à democracia. Isso é tão importante que também se faz necessário ampliar o espectro das adesões, sejam elas advindas da sociedade civil organizada como de formadores de opiniões “descontaminados” da carga diária da “dopamina virtual”, propiciada por redes sociais alopradas. Nesse sentido, o verdadeiro espírito patriótico está no entendimento, que converge para os setores mais ao centro, em todos sentido. Só então, vistas essas etapas, é que teremos a moderação dos discursos que cabe perfeitamente para contribuir com a desejada estabilidade econômica. São as tais expectativas que servem para acalmar os distintos mercados.
Para isso, movimentos aconteceram. Sem que fosse desconsiderado o princípio básico de estar a democracia acima de tudo (em respeito ao preceito constitucional do Estado laico), as sinalizações emitidas por organizações e pessoas afinadas com as defesas aqui expressas, representam o caminho mais saudável. Que a banda mais consciente e reflexiva dessa sociedade, maltratada por um divisionismo perverso, consiga sustentar sua resistência e tese.
Vou-me concentrar em brasileiros ilustres e que compõem uma tecnocracia meritória, cujas atitudes em defesa da democracia estão além dos vieses ideológicos. Nesse sentido, as posturas tomadas em favor da institucionalidade democrática por Henrique Meirelles, Pedro Malan, Edmar Bacha e Armínio Fraga têm significado. Tão ou mais importante que lembrar as divergências de todos, com relação ao pensamento e prática no trato econômico, está o fato de que suas defesas da democracia geram mais confiança e estabilidade nos mercados. São figuras tecnicamente capazes, por isso mesmo, suficientemente preparadas para difundirem e formarem opinião. Fazem parte de um estoque de capital humano que representa um ativo intelectual. Agora expandido como um ativo da nossa democracia.
Superada a pandemia e o pandemônio dela derivado, não há como levar mais à frente esse esforço (consciente ou não) em nome da pan-ignorância.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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