Nova Oportunidade para Repensar o Desenvolvimento –
O Eixo da Humanização Precisa Ser Encarado pela Dinâmica Econômica
Minha percepção positiva do que posso chamar de obsessão pela humanização, enquanto núcleo dinâmico de um novo paradigma de desenvolvimento, tem sido algo recorrente. Na ideia de que, para o modelo econômico já vigente, tenha-se esse capital humano como mola propulsora, a politica de desenvolvimento precisa considerar um eixo que dê a devida movimentação.
Considerado tal princípio, não há como fugir das prioridades setoriais que dão sentido a criatividade, a inovação, a tecnologia e a preservação ambiental. Todos em harmonia e capazes de agirem a favor de planos sustentáveis. Nesse sentido, cabem no contexto a educação, a cultura, a ciência & tecnologia e o meio ambiente. Esse repertório é o que destaco como “eixo fundamental do desenvolvimento”.
A obsessão educacional precisa ser verdadeira, prestigiada e exequível. Priorizar a educação sempre foi evidente, embora toda realidade fosse dada pela distância entre a promessa política e a realização efetiva. Foram anos de discursos, planos e ações, sem que algo realmente transformador acontecesse. Fragilidade política por recuos ditados por pressões diversas e morosidade com doses de ineficácia na aplicação dos recursos, tudo isso tem sido comum às politicas públicas da educação. Além de uma falta de foco no que há anos se revela urgente: um maior compromisso com as etapas dos ensinos infantil e fundamental. Hoje, vistas como vitais à formação da cidadania.
O setor cultural exprime, na sua essência, uma questão estratégica para qualquer pilar de sustentação de uma política de desenvolvimento: a preservação da identidade nacional. A partir do mérito desse conceito é preciso que se rompa a barreira do 4D, que se impôs sobre a economia que move a cultura. Desconhecimento do que seja, desinformação sobre métricas, desleixo sobre políticas plurais e destruição orgânica e de imagem são etapas tão urgentes de superação, quanto cabíveis naquele eixo dinâmico que me referi acima. Afinal, a cultura e a própria educação são agentes transformadores, que se apoiam no potencial do conhecimento e da criatividade gerado por ambas.
Nessa mesma linha integradora, também enfatizo que o foco no capital humano possui amplo e natural respaldo na evolução científica e tecnológica. Nunca o mundo expôs tantos avanços transformadores, haja vista que a velocidade das suas consequências tem propiciado uma cara nova para a sociedade, como no piscar de olhos. Negar o alcance científico-tecnológico não me parece um exercício de inteligência e até de cidadania. Em linha extensiva e complementar, cabe ainda a evidenciação de que a preservação ambiental representa o compromisso hoje com a sobrevivência futura. O respeito aos valores do meio ambiente não só se traduz por novos investimentos. Há também o significado do reposicionamento geral do Brasil perante toda comunidade mundial. Uma reconquista de espaço perdido com plenas condições de protagonismo.
Esse é o eixo. Basta agora configurar os novos caminhos e daí trabalhar na proposição de um país diferente do atual: mais humano, empreendedor, livre e sustentável.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador, Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco