A indústria televisiva pela lado da demanda
Ao seguir com a análise econômica da indústria da TV no Brasil, ressalto agora o lado da demanda, vistos antes alguns aspectos da oferta. Neste lado do mercado, mostrei o papel do custeio pela excelência de uma publicidade criativa, que “casou” muito bem com um certo padrão de qualidade técnica, cujo mérito é algo concreto.
De fato, esse referencial de qualidade, seja nas instalações, nos equipamentos e, sobretudo, nos conteúdos que garantem produtos de estética artística e acesso amplo à informação, também pode ser visto como o “ponto de partida” para se entender a conquista dos consumidores. Enfim, quero destacar que a qualidade técnica e artística do produto televisivo tem sido uma variável importante no estímulo à demanda. Na medida em que essa oferta foi-se aprimorando tecnicamente, o telespectador brasileiro foi-se tornando mais exigente, no que tange aos conteúdos.
É evidente que, no desencadear dessa escala industrial, não faria sentido se projetar com tanto esforço e esmero nas
produções, sem que o público tivesse acesso aos equipamentos indispensáveis ao seu consumo: os aparelhos receptores. Se no lado da oferta foram desafiantes os investimentos físicos, no sentido do “como produzir”, bem como, as inovações criativas, no sentido de “o que produzir”, não menos desafiante foi criar a demanda, no sentido de “para quem produzir”. É justo nesse ponto que se nota a incitação ao mercado, no intuito da comercialização desses aparelhos.
A demanda pelo equipamento reagiu muito bem. Depois do passo inicial induzido pelo próprio Chatô, que providenciou a primeira centena de aparelhos, em um ano de TV (1951), atingiu-se a marca dos 3,5 mil aparelhos. Foram 141 mil em 1955 e 434 mil em 1959. Na década de 60, já se constata a a confirmação de uma “indústria cultural emergente”. A “cultura televisiva” se tornou um fenômeno econômico irreversível. Diante de uma política econômica favorável, que proporcionou um novo “ciclo de industrialização”, nesse bojo foi gerado um mercado de bens de consumo duráveis, via crédito direto ao consumidor. A segunda derivada desse processo industrial foi a formação e consolidação dos “conglomerados culturais”. Um modelo que deu a nutrição necessária para a constituição das redes de TV. Tudo amarrado. Por trás desse enredo econômico, destaque-se o relevante papel do Estado como promotor da política de telecomunicações. Isso foi parte de um plano estratégico baseado na “integração nacional”. Do PAEG de Roberto Campos aos dois PND de Reis Veloso.
O extrato final da política: 1) a autoridade estatal investiu nas telecomunicações (Embratel) e fez as concessões públicas para as operações privadas; e, 2) o crédito se encarregou de potencializar o consumo. Neste particular, o País passou de 2,2 milhões de aparelhos em 1965, para 4,2 milhões em 70 e 16 milhões em 80. Um mercado consolidado, pela massificação da cultura televisiva (demanda) e pelo crescimento dos investimentos publicitários (oferta). Uma visão atual do mercado será o passo final dessa breve análise.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco