O mercado da indústria televisiva
Nas colunas anteriores, expus, em rápidas palavras, alguns aspectos da oferta e da demanda da indústria televisiva do Brasil, vistas numa perspectiva histórica. Em 70 anos de atividade, junto ao cinema e as novas mídias, a TV deu ro bustez socioeconômica a uma significativa cadeia produtiva – a nova “indústria do audiovisual”. Um setor que hoje projeta uma estimativa de PIB muito próxima a outras indústrias consolidadas, como são os casos da têxtil, farmacêutica e autopeças. O audiovisual gera cerca de 200 mil empregos, na sua maioria com notória qualificação. Isso implica também num padrão salarial bem acima da média nacional.
Uma história econômica que, particularmente, transformou a TV no maior fenômeno cultural do País, no sentido de influenciar esse “mosaico” tão diverso que caracteriza nossa sociedade. Uma assertiva que carrega o mérito que cabe a todos os agentes sociais que fizeram da TV essa “indústria de sucesso”.
Para chegar onde chegou, a TV brasileira trouxe no seu brilho muitos atributos: visão empreendedora, investimento em recursos de produção competitivos, valorização da inovação e superação de enormes desafios. Nossa TV fez uma trajetória num misto reflexivo “chapliniano” e “coraliniano”. Teve na persistência, na obstinação, o caminho do êxito (Chaplin). E a certeza de que mais importante que o ponto de partida, dado há 70 anos, ter sido a caminhada (Cora Coralina).
Essa indústria cresceu e se diversificou. Em conjunto com a parceria advinda do mercado publicitário, estabeleceu um suporte de regras e procedimentos éticos. Superou o desafio da mudança do sistema analógico para o digital, com vultosos investimentos. Assimilou o gradualismo do que chamo de “soberania do consumidor”, com a implantação da TV por assinatura. De uma programação impositiva (que ainda se mantém plena nas modalidades abertas e fechadas), atingiu-se a escala diferenciada do “pay per view” e do “streaming”. Encara-se agora o desafio da carga de conteúdos que hoje se origina pela força da internet. A indústria fez seu “dever de casa”.
Diante disso tudo, vale entender nossa TV pela dimensão histórica. Como não destacar a ousadia desbravadora do empreender, de Chatô (Tupi), Roberto Marinho (Globo), Paulo Machado de Carvalho (Record), Mário Wallace Simonsen (Excelsior), João Batista do Amaral (TV Rio) e F. Pessoa de Queiroz (TV Jornal)? E o que dizer da visão gerencial, técnica e artística de Walter Ckark e José Bonifácio Sobrinho (Boni)? De novo, como dizia Chaplin, todos “lutaram com determinação, abraçaram a causa com paixão, porque sabiam que o mundo só pertence a quem se atreve”.
Lutadores, apaixonados e atrevidos, fizeram do sonho de fazer uma TV exemplo de excelência na qualidade e motivo de orgulho de ser brasileiro. Em tempos de negacionismo amplo e explícito, pelo que fez em 70 anos, deve-se respeitar a relevância econômica, social e cultural da TV brasileira.
MÁGICA ECONÔMICA> Profissionais da Economia vivem um momento inédito. Um misto de reflexão e expectativa envolve os agentes econômicos, em torno de saber como o Governo, no seu embate com o Parlamento, irá custear o “Renda Cidadã”. A fórmula mágica está em resolver o “xis” da equação do financiamento, sem ampliar o teto dos gastos, não aumentar a carga tributária e não ferir interesses corporativos. A solução dos precatórios é calote. Tirar do FUNDEB é “pedalada”. Aguarda-se, ansiosamente, quantos “coelhos” a equipe econômica terá que “tirar da cartola” e daí se decifrar a mágica.
Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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