PONTO DE VISTA DE ALFREDO BERTINI

PRECONCEITO SIMBÓLICO E DISCRIMINAÇÃO INCONSCIENTE –

110 anos de uma tipificação simplificadora sobre o Nordeste. Num primeiro plano, a demonstração da sua razão de existir. Num plano intermediário, a consolidação de um estereótipo do “ser nordestino”, cujo simbolismo contribui para um preconceito recorrente. E, num plano final, uma “zona de conforto” aparentemente tolerada, que embora revele visões atualizadas e recolocadas, não escondem a xenofobia. Ou seja, os estereótipos sobre os nordestinos inviabilizam a percepção da diversidade regional e não deixam de gerar situações discriminatórias, ainda que existam motivações inconscientes.

Desde 1910 (com os documentos técnicos das ações contra a Seca), passando por Rachel de Queiroz (no seu livro de estreia, O Quinze) e culminado com o “Manifesto Regionalista” de Gilberto Freyre (1926), que o Nordeste pautou seu papel no cenário nacional.

Mas, uma referência que se manteve presente no imaginário do brasileiro, com caracteres imutáveis até hoje: estiagem climática, migrações e pobreza. Junto a esses atributos, formou-se e firmou-se um estereótipo próprio, cujos valores culturais ou são glorificados ou negados, conforme a situação. Embora a essência do “ser nordestino” represente um modo singular, seu enquadramento no tal imaginário tem viés plural. É a indumentária sertaneja do gibão e do chapéu de couro. É o cidadão mestiço, rude e deseducado que migra para outras regiões. É o migrante que se estabelece na periferia e se mostra bem mais interpretado por alguma violência urbana, do que mesmo pelo seu compromisso engajado com o trabalho. Enfim, é o típico transgressor de um “padrão linguístico dominante”, que vira deboche pelo seu mero sotaque. Tudo isso ocorre por um preconceito simbólico ou uma discriminação inconsciente.

Assim sendo, não é nada demais político chegar à região, montar num jegue e por chapéu de coro. Faz parte do simbolismo, embora preconceituoso. Também não parece nada demais negar ao nordestino mais espaços para discutir as grandes questões nacionais, pois seu papel parece ser eternamente regional. Faz parte do inconsciente, embora discriminador.

É o Nordeste de sempre. Nada mudou.

https://www.instagram.com/p/CDZfceVB54E/?igshid=dqzje8y5qcsp

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

 

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
Ponto de Vista

Recent Posts

COTAÇÕES DO DIA

DÓLAR COMERCIAL: R$ 5,8010 DÓLAR TURISMO: R$ 6,0380 EURO: R$ 6,0380 LIBRA: R$ 7,2480 PESO…

1 dia ago

Capitania dos Portos limita número de passageiros em embarcações de passeio nos parrachos de Rio do Fogo e Touros

A Capitania dos Portos do Rio Grande do Norte divulgou nesta quinta-feira (21), a publicação…

1 dia ago

Natal em Natal: Árvore de Ponta Negra será acesa nesta sexta-feira (22)

O Natal em Natal 2024 começa oficialmente nesta sexta-feira (22) com o acendimento da árvore natalina de…

1 dia ago

Faz mal beber líquido durante as refeições? Segredo está na quantidade e no tipo de bebida

Você já ouviu que beber algum líquido enquanto come pode atrapalhar a digestão? Essa é…

1 dia ago

Alcione, Flávio Andradde e Festival DoSol: veja agenda cultural do fim de semana em Natal

O fim de semana em Natal tem opções diversas para quem deseja aproveitar. Alcione e Diogo Nogueira…

1 dia ago

PONTO DE VISTA ESPORTE – Leila de Melo

1- O potiguar Felipe Bezerra conquistou o bicampeonato mundial de jiu-jitsu em duas categorias, na…

1 dia ago

This website uses cookies.