DA PÓLVORA AO PARACETAMOL: A EXPLOSÃO DA CEFALÉIA MOVIDA PELA SINOFOBIA –

Até que ponto a ideologização exacerbada, que se propaga em rede, transforma a sinofobia numa questão de ordem? Até que ponto essa aversão é capaz de ignorar a origem de insumos e produtos que tem o cariótipo chinês? E, até que ponto essa ignorância que projeta o desconhecimento, não é capaz de reconhecer que as relações comerciais têm mão dupla?

Só mesmo um “sapiens” em êxtase, contaminado pela doutrinação e incapaz de discernir, pode se embaraçar nessas questões.

O cidadão que perde o equilíbrio emocional pelo desejo de “politizar e nacionalizar” doenças, tratamento e vacinas, tem dificuldades de exercer a razão e o discernimento. Sente-se imunizado em tudo. É homogêneo, puro, não se mistura. Daí julga que o mal maior da humanidade é quem pensa e age diferente e olha para um todo que é desigual. Por isso, além de negar o que não lhe interessa, quaisquer contrários agem por conspiração. Uma lógica concebida em cima de princípios ilógicos.

Vou ao caso. A lógica é negar uma vacina por ser chinesa. Basicamente, por discordar da identidade ideológica da China. A falta dessa lógica (o ilógico) se apresenta em três níveis. Primeiro, remédio ou vacina (e numa situação como a atual) não pode ter pátria e nem partido político. Segundo, enquanto produtos econômicos, remédios e vacinas têm sua lógica de mercado como quaisquer outros. Terceiro, por força de relações comerciais bilaterais (ainda bem), insumos e produtos de várias origens costumam circular à vontade.

Neste último aspecto, lembro que componentes chineses estão presentes em todos setores da economia. Inúmeros produtos brasileiros dependem de insumos chineses e na indústria farmacêutica a dependência é fortíssima. Um componente como o paracetamol é um bom exemplo.

Diante do viés dessa questão, negar a origem da vacina já representa uma tolice. Seguir nessa lógica seria também negar eletrônicos, automóveis e até o paracetamol.

Para os entusiasmados com o discurso, lembro que essa emoção ideológica pode dar dores de cabeça. Assim, não caberia paracetamol para combatê-la. E nem adianta explodir. A pólvora foi invenção chinesa.

 

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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

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