TEMPOS SOMBROSOS –
Cena 1: Conversa entre Amigos
– E essa história da vacina, hem? Virou questão de rivalidade?
– Virou “a virilidade da viralidade”…dá para entender?
– Claro. Que trocadilho mais “arretado”. É verdade. Viralizamos de modo viril, estúpido, embates ideológicos para tudo que é questão. Se politizar a pandemia já foi um erro, imagine agora fazer palanques por vacinas.
– Pois é, amigo. Imagine uma situação onde alguém está com fome e lhe é oferecido um alimento…
– Sim, e daí?
– Daí que, ao receber o alimento, quem entrega diz: esse prato é típico da Hungria – é um goulash. A páprica que tempera veio da Nicarágua. Embora tenha chegado ao Brasil por meio de um navio de bandeira do Panamá, o combustível era da Venezuela.
– Onde vc quer chegar?
– Bem, o faminto negou o prato, por causas ideológicas.
– Eu não acredito. E a fome dele?
– A da barriga se tornou menor. Disse ainda que essa era por conta do regime. E eu que achei a justificativa como dieta. Não é que a reação dele era por conta da política? A apetência pelo gosto ideológico é surreal.
Nesses tempos sombrosos é assim que funciona. Não importa o alimento que mata a fome. O que interessa é saber de onde veio e como chegou aqui esse alimento. A fome é outra.
No caso da vacina, a inflamação do embate ideológico impõe hoje o passaporte como condição.
Enquanto isso, eu e grande parte do povo, que queria uma vacina contra o coronavírus, assistimos incrédulos o valor que se dá a origem da mesma. Se não estiver ideologicamente afinada, não interessa. Mata. Seguir propagando a doença e gerando óbitos não vêm ao caso. O que vale é politizar e se manter no palanque.
Que Brasil é esse?
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco