VIOLÊNCIA, ASFIXIA E COVARDIA: O SUPREMACISMO NO CLIMAX DA CRUELDADE –
Confesso que durante a semana que se encerra, programei-me para escrever e daí gerar reflexões sobre o valor de se promover a conscientização da etnia afro-brasileira. Assim o fiz com a publicação do texto na data certa: 20 de novembro. No entanto, minha escrita e difusão estavam maculadas por uma impertinente violência que, à semelhança do ocorrido recentemente nos EUA, levou à morte mais um cidadão negro. Certamente, que minha querida Porto Alegre foi marcada por um fato de dimensão histórica, que não lhe causará orgulho.
Imagino como se sentiram ontem meus amigos gaúchos com esse fato tão lamentável. O por do sol do Guaíba, a partir de hoje, está enlutado, triste, sem poder ser contemplado com aquela diversidade cidadã que, no contemplar da bela paisagem, carrega com ela a força das etnias que formam a “nação riograndense”.
A violência do dia 19, no estacionamento de um supermercado em Porto Alegre, machuca a história dos heróis negros gaúchos que seriam reverenciados no dia 20. Diante dessa morte covarde e gratuita, como não entender a força e dor da chibata, que foi o motivo da revolta do Almirante João Cândido. A crueldade traduzida na morte de João Alberto fere também a luta dos “lanceiros negros”, que deram suor e sangue à Revolução Farroupilha. Nada diferente também pelo que fez o fiel Sargento Caldeira na luta do General Netto. Aliás, um papel que no cinema foi feito pelo grande ator negro e gaúcho, o querido amigo Sirmar Antunes, premiado aqui no nosso Cine PE.
Em tempos de terríveis e tristes asfixias que decorrem do mal proporcionado pelo coronavírus, acresce-se a dor insuportável de assistir a um humano ser sufocado até a morte, entre socos, pontapés e golpes asfixiantes.
O mundo e o Brasil, em particular, atingiu o seu limite da intolerância racial, vítima das ideologias supremacistas que repudia as diferenças. Ou o respeito e o diálogo se estabelecem, na defesa de um novo tempo, de convivência diante da diversidade, com veemência democrática. Ou seremos superados pelas autocracias, que dissimulam na sutileza o ódio, para apoiarem depois a catarse de um purismo insano.
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Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco
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