A Realeza Desnuda e uma Nação Herege Muda –

O escritor dinamarquês Hans Christian Andersen escreveu um conto, na primeira metade do século XIX, no qual uma certa passagem do texto ficou bem conhecida no mundo e identificou sua obra. Na essência, o texto revela a história de um bandido espertalhão e um rei para lá de vaidoso. Uma narrativa de protagonistas desatinados.

O primeiro, passou-se por alfaiate e, diante do comportamento pusilânime do monarca, vendeu a ele a costura de uma roupa cara, bonita e única. O segundo, do alto da sua extrema vaidade, imaginou-se ainda mais formoso diante da sua corte. O detalhe: só alguns mais inteligentes e astutos poderiam enxergar a beleza da tal roupa. O resultado: o alfaiate era um charlatão, mas como a roupa seria “vista”, de verdade, por poucos, o rei estava era nu. A visão de poucos súditos sobre a “beleza” da roupa, era só para os que se revelaram ao rei como subordinados obedientes. Afinal, muitos só o enxergavam
desnudo. E se sentiam ignorantes.

Tento aqui, na sutileza dessa história, fazer um mero paralelo sobre certas “realezas” dos momentos políticos e econômicos nacionais. Garanto que a percepção do leitor o fará entender quem exerce os reinados e como reagem os súditos diante dos seres nus.

Os temas são os do momento: 1) todos os esforços político-eleitorais em nome de “forçar” a baixa dos preços dos combustíveis; e, 2) os efeitos econômicos dos desatinos ambientais e educacionais, dois setores vitais ao desenvolvimento sustentável que se requer para o país.

Sobre as tentativas de intervenção nos preços dos combustíveis, a nudez da realeza da estatal do petróleo está escancarada. Se nela, numa linha do tempo de décadas, houve manipulações políticas absurdas e ainda lhe faltaram planos para se defender das crises endógenas e exógenas, o que dizer dos desatinos atuais. Atacar e exonerar executivos? Reduzir impostos pactuados no modelo federativo? E a ausência de pesquisas e decisões sobre energias alternativas? Talvez as respostas expliquem uma parte do problema, haja vista que o próprio descontrole macroeconômico e absorção dos problemas econômicos externos têm lá seus pesos. O danado que se extrai desse blábláblá politico infrutífero é só desqualificação da PETROBRAS, com a certeza de que toda sua realeza está nua.

Para dar o clima a tanta nudez impudica, o atual governo esbanja desdém com relação ao futuro do país. Digo isso por tudo que tem ocorrido, em termos de debilitação da situação ambiental e educacional. Entre agressões, mortes, cortes de recursos, prisões e suspeitas de atos de corrupção, todo um escancaramento que deixa desnudo o que se tinha de promessa para o futuro sustentável do país.

Em síntese: qualquer exercício de realeza não desobriga uma nação de súditos incrédulos a enxergarem o vazio.

 

 

 

 

 

Alfredo Bertini – Economista, professor e pesquisador. Ex-Presidente da Fundação Joaquim Nabuco

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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