Fábio Macêdo
Vivemos mudanças no comportamento nos últimos anos que se expressam claramente na sociedade. As novelas cada vez mais trazem o tema dos novos arranjos familiares, algo que tenta reproduzir da vida real. Muitas vezes até exageram na dose. Toda novela tem no seu enredo um assassino, adúltero, ladrão, pessoas boas sofrendo quase até a exaustão e casal gay. Acho que este capítulo já deveria ter sido pulado. As pessoas devem ser respeitadas como elas são, independentes da sua cor, raça, time de futebol, religião ou opção sexual.
O respeito que a sociedade exige, deve ser uma via de mão dupla. Tudo se resume no “respeito”. Para sermos respeitados, temos que respeitar. Aprendemos com os nossos pais. Vivemos um momento de grande turbulência, quando os costumes cada vez mais estão sendo ignorados, substituídos e a transgressão passou a ser uma forma de linguagem. Já vivenciamos vários movimentos nesta direção que por modismo ou não, expressam de maneira clara a constante mutação da sociedade.
Os cidadãos pagam os seus tributos, cumprem as leis estabelecidas, praticam na sua grande maioria o respeito ao estado e infelizmente o que tem recebido? Maus exemplos todos os dias. As obrigações que o estado deveria ter com eles, está muito abaixo da sua exigência oficial. Saúde, segurança e educação abaixo do crítico.
Tenhamos como exemplo o estado do Rio Grande do Norte: assumimos uma copa do mundo, endividando o estado, fomos iludidos com grandes e substanciais obras que melhorariam a vida da nossa cidade e do estado. Mudamos o Aeroporto que era uma joia em acessibilidade, um aeródromo fantástico, aliás o melhor do Brasil e fomos para São Gonçalo.
Passaram-nos uma ideia que não seria apenas um Aeroporto, mas sobretudo um HUB, que devido às nossas condições geográficas, administração privada agilizando os negócios, seria um grande vetor de estímulo à nossa economia. Infelizmente, entregaram um Aeroporto às vésperas da Copa do mundo, para cumprir compromissos assumidos, sem a adequada infraestrutura de acesso. Todos os dias ouvimos relatos de pessoas que viajam com frequência sobre a perda de voos, assaltos e insegurança. Muitos preferem ir a outras cidades a enfrentar o gargalo de Igapó e São Gonçalo, ou a insegurança das precárias vias de acesso.
Pois bem, o HUB está batendo na nossa porta, mas aí vem uma grande discussão que circula nos corredores: este menino não pode ter dois pais!!! Quem disse? Os tempos mudaram. Hoje existem famílias com dois pais, duas mães. Melhor que nas ruas. Este HUB é um prematuro e precisa nascer. Com ele virão muitos empregos, turistas, divisas e um ciclo de desenvolvimento a um estado quase falido.
A eleição terminou e entre mortos e feridos salvaram-se um Governador (Robinson Faria) e um Ministro de estado (Henrique Alves). Todos sabem do grande empenho que o Ministro, presidindo a câmara, empregou para viabilizar o novo aeroporto. Todos sabem que o Governador que herdou um estado falido, tem se empenhado ao máximo para viabilizar este HUB da TAM, logo esta criança que está a caminho poderá nascer no seu governo. Para tanto precisam acertar rapidamente que esta criança pode ter dois pais. Os dois juntos podem dar garantias à TAM, para que o RN seja o escolhido. Precisam hastear em seus punhos uma única bandeira: a do Rio Grande do Norte. Precisam deixar as feridas de uma eleição traumática para trás, demonstrando a todos que são merecedores da nossa confiança. Por decreto, o povo do Rio Grande do Norte, registrará esta criança com dois pais.
Fábio Macêdo – Médico, professor da UFRN e Diretor do Aero Clube