A rotina do detento José Luís Vaz Marques Rosa, de 46 anos, começa cedo. Ele é o responsável por preparar o café da manhã dos agentes penitenciários do Centro de Detenção Provisória de Macaíba onde está preso desde 2011. Nascido em Portugal, Luís mora em Natal desde 2001 e foi condenado a cinco anos de prisão por sonegação fiscal. O crime foi cometido em Portugal em 1997, mas, quando foi preso em Natal, pediu para cumprir a pena no Brasil para ficar perto da filha que nasceu e mora na capital potiguar. Considerado um preso de bom comportamento, ele encontrou uma maneira de ocupar o tempo ocioso na prisão: escrever. Em quatro anos e quatro meses de prisão, já escreveu cinco livros. Um deles deve ser publicado em outubro através de uma parceria com o Poder Judiciário.
Formado em contabilidade, Luís Vaz diz que nunca pensou em escrever livros. Em Portugal, mantinha uma empresa de consultoria fiscal. Em 1994, conheceu o Brasil. Veio passar 35 dias no país e os últimos cinco dias foram em Natal. “Me apaixonei pela cidade”, conta. Em seis anos foram várias viagens para a capital potiguar, até que em 2001 ele veio para ficar. Aqui, trabalhou como corretor de imóveis. “Me mudei, casei e tive uma filha aqui”.
Em maio de 2011 ele foi “convidado” a comparecer à sede da Polícia Federal, em Natal. “Eu fui sabendo que ficaria preso”. Desde o dia 19 de maio Luís Vaz está preso. Foram 11 meses na carceragem da PF até ser transferido para o CDP de Macaíba. Ele pediu para não ser extraditado e cumprir pena em Natal e a Justiça acatou. O motivo é para não se afastar da filha. Hoje com 13 anos, ela visita o pai na cadeia uma vez por mês.
O tempo para escrever um livro varia, segundo Luís. O maior dele, ‘Os Desafios de Juliana’, foi escrito em pouco menos de 1 ano. Os outros Luís levou em média dois meses para escrever cada um. O tempo para escrever é entre o preparo de uma refeição e outra e durante a noite. Luís é o responsável pelo café da manhã, almoço e jantar dos agentes penitenciários. Entre o café da manhã e o almoço tem 1h30 de descanso e entre o almoço e o jantar também.
O tempo ocioso na prisão o fez rascunhar as primeiras páginas. O primeiro livro – chamado “Um verdadeiro ato de amor” – foi escrito ainda na carceragem da Polícia Federal. Depois veio “Os Desafios de Juliana”, “Aforismos”, “As confusões de Florinda”, e por último “O segredo do religioso”. Ele não cita nenhum autor como inspiração e diz que todas as histórias são ficção. “Não tem nenhum personagem que eu tenha conhecido. É tudo criação. As ideias vêm surgindo e eu vou escrevendo”, conta.
O livro “As confusões de Florinda” deve ser lançado em outubro em parceria com o Poder Judiciário. A direção do CDP de Macaíba apresentou um projeto ao juiz Felipe Barros, da vara criminal da cidade, para que os recursos das penas pecuniárias possam financiar a publicação. “Apresentamos o projeto para a vara criminal e estamos aguardando a aprovação do juiz. É uma forma de ajudar na ressocialização do preso, valorizando o que foi produzido enquanto ele esteve aqui”, diz a diretora do CDP de Macaíba, Rebeca Ludmilla.
Fonte: G1.com