POSITIVEI –
Positivei! Positivei para COVID. Não era isso que esperava em meio a um fim de semestre letivo. Vida de docência nos faz pensar assim. Na turma que ficará sem aula prática ou sem revisão. Como não prejudicar os alunos? Ainda, passamos seis semanas na casa de meus pais enquanto reformávamos nosso apartamento. No dia seguinte ao surgimento dos sintomas, iam montar os móveis. Tivemos que adiar. A cozinha e os banheiros estão sem armários e tudo se encontra espalhado em caixas, impossibilitando a organização geral. Que bagunça este positivo me causou!
Ao chegar em casa após um dia de trabalho, senti uma dor no corpo estranhamente cruel. Tomei banho, vesti o pijama e passei a noite tentando dormir, lutando com as dores e a febre. No dia seguinte, avisei que não conseguiria trabalhar. Após 48h assim e muita tosse, fiz o teste de farmácia. Já sabia antes de o teste confirmar: sou mais um número na estatística.
Positivei! Que loucura. Três doses de vacinas e estou eu aqui, prostrada, assistindo Nadal em sua participação sensacional em Roland Garros.
Nada de café com amigos no fim-de-semana. Nada de almoço de domingo no shopping. Nada de missa e café da manhã com meus pais. Nada de preencher o planner com a programação para semana que vem.
Que época para adoecer! Pego-me frustrada olhando para umas caixas marcadas com caneta vermelha: cozinha. Quando conseguirei arrumar tudo?
Logo depois a sanidade mental volta e me dá um tapa na cara: tem época boa para ficar doente? Isto vai obedecer sua agenda de compromissos e preocupações com a vida?
Continuo olhando a bola de tênis indo de um lado para outro e conto nos dedos, mais uma vez, em qual dia da infecção eu estou. Quando surgiram os sintomas mesmo? A última semana me parece um borrão de dias de sono mal dormido, dores mal resolvidas, tosses entrecortadas por copos de água e muitos comprimidos engolidos.
Penso que terei mais alguns dias de molho e que não tem como acelerar o processo.
Acelerar… Que engraçado isso! Mais uma preocupação fútil!
Por que insistimos em acelerar? Por que insistimos em dominar o tempo? Ou melhor, acreditar que podemos dominar o tempo?
Não podemos! E sabemos disso… Mesmo que não queiramos admitir…
Assim, este é só mais um daqueles momentos que preciso entender que o tempo dEle é diferente do meu. Que o ciclo viral vai ocorrer eu estando com pressa ou não. Que vou ter dores, tosses e tontura por um tempo e depois esquecerei o que passei, como Flavinho se esquece de beber água depois de uma crise de cálculo renal…
E vou me prometer aprender com isso que o tempo não passa por minha vontade, correndo rápido demais ou lento demais diante da percepção que sinto dele, mesmo não sendo a mais correta. Mesmo não sendo a mais honesta.
E, provavelmente, logo esquecerei isso também.
Ah!, Nadal ganhou do canadense de 21 anos de idade. No quinto set! Num jogo lindo. No tempo dele. Ou melhor, dEle…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora