Até o início da quarentena provocada pela pandemia, o ator Pedro Daher tinha uma peça em cartaz na capital paulista. Quando tudo fechou e o espetáculo deixou de ser apresentado, Pedro voltou a sua cidade-natal, Votuporanga (SP). Era 19 de março de 2021 e ele estava entediado.
“O TikTok estava crescendo e comecei a dar uma olhadinha. Vi que tinha o efeito de olhinhos e boquinha. Tive uma ideia e resolvi brincar”, rememora.
Pedro postou o vídeo e foi dormir. No dia seguinte, quando acordou, seu celular anunciava um milhão de visualizações no vídeo e, nos comentários, as pessoas pediam mais postagens como aquela. É provável que você já tenha visto, em algum lugar, as publicações dele.
A primeira, em março de 2021, tem 59 segundos de duração e figura Brasil e Portugal como personagens. O diálogo brinca com palavras que têm significados diferentes em cada país e termina com uma puxada na orelha de Portugal pela colonização do Brasil.
Dois meses depois do primeiro vídeo, Pedro postou aquele que, até hoje, é campeão de visualizações em seu perfil: com 46 segundos de duração, a publicação foi vista mais de 18 milhões de vezes e introduz a Alemanha como personagem.
“Fiz um personagem completamente maluco, pitoresco. Sempre brinquei que a língua alemã é aquela que você fala e parece que está xingando alguém. Quando coloquei, explodiu”, conta o ator.
Mas um dos pontos de virada na história de Pedro com a plataforma só chegou em 2022. Quase três semanas antes do início da Guerra na Ucrânia, ele publicou um vídeo com menos de dois minutos que resume as tensões pré-conflito e aborda tópicos complexos da geopolítica contemporânea:
Quando a guerra começou, em 20 de fevereiro, o vídeo de 1 minuto e 54 segundos viralizou. A postagem acumula, até hoje, 4 milhões de visualizações, cerca de 560 mil curtidas e mais de 23 mil comentários, nos quais uma série de pessoas revelam que só depois de ver o vídeo é que entenderam o que estava se passando no cenário internacional.
“Centenas de milhares de pessoas vieram até mim para perguntar sobre a guerra. Me colocaram no lugar de especialista no assunto. Até fiquei perdido, foi uma surpresa”, diz.
A partir desse ponto, Pedro se deu conta de que poderia falar de assuntos atuais, e não se limitar a temas históricos ou mais simples. Existia um novo nicho a ser explorado.
“Tive que estudar mais o assunto. Fui conversar com professores, com gente que trabalha no meio. Até hoje converso com o meio acadêmico das relações internacionais para pegar dicas de leitura”, conta o ator.
Ainda em 2022, em novembro, foi lançado o Programa Criativo Beta, permitindo que vídeos originais com mais de um minuto de duração pudessem ser monetizados.
Neste ponto, Pedro já contava com mais de 300 vídeos postados e as regras para monetização se encaixaram perfeitamente nas suas produções.
“Antigamente, os vídeos mais populares eram os curtos. Com a monetização, consegui criar meus vídeos longos com mais tranquilidade”, revela.
Se lá em 2020, mesmo depois de ter viralizado, ele sequer imaginou que a brincadeira pudesse render algo além de visualizações e comentários, a monetização mudou sua realidade.
“Vi como uma maneira de estabilizar minha renda, porque antes dependia só do YouTube e da publicidade. Consegui dar uma respirada, ter um controle melhor”, diz.
Pedro revela que a média de ganhos mensais que tem com o TikTok é de R$ 3.000 — e acrescenta que a rede social chinesa paga menos do que a plataforma do Google. Mas acredita que esse cenário pode mudar. “A gente está vendo uma rede social crescendo cada vez mais”, diz.
Pedro vive uma rotina de produção de conteúdo organizada por temas e pela escrita constante de roteiros. “Divido meus tópicos em dois. O de atualidades, assuntos do momento, e o (tópico) da história, com brincadeiras sobre questões linguísticas e culturais.”
Hoje, sua maior dificuldade com o TikTok é a demanda constante por criatividade e originalidade. “É que toda hora eu preciso de uma ideia muito genial e, às vezes, eu estou cansado”. O ator posta novos vídeos duas ou três vezes por semana.
“Tem a pressão de ter que estar postando, de ter que continuar postando. Isso entra na cabeça e fica aquela ansiedade. É uma dificuldade que pega, porque é um trabalho que demanda criatividade o tempo todo e o vídeo tem que prender a pessoa até o fim.”
Fonte: G1
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