POTTER! –
Li Harry Potter a medida que J K Rolling liberava, em gotas homeopáticas, seus livros. Esperei cada filme ansiosamente. E, senti um vazio em mim quando, por fim, a série de livros acabou. Revi todos os filmes uma quantidade enorme de vezes. Com os filhos, sozinha, na ordem correta ou pulando alguns deles. Não me importava. Esperei, mesmo aos 46 nos de idade, a carta que chegaria aos pés de alguma coruja, falando que eu iria para Hogwarts e sonhei com o Chapéu Seletor sendo posto em minha cabeça e, com poucos segundos me dizendo: Grifnória! Seria da mesma casa que Harry, Hermione e os Weasley.
Acho que este é o maior desentendimento que eu e Flávio temos: ele é Sonserina e repete inúmeras vezes, apoiado por nossos filhos, que Harry, um ofidioglota, deveria ter ficado na Sonserina. Discordo totalmente, mas cansei de discutir. Apenas mostro as cores da casa em Hogwarts… Vencemos o mal!
Estes últimos meses resolvi reler todos os livros da coleção. Revivi emoções que só os livros são capazes de nos dar: a alegria de um mundo que não existe, a dor pelos personagens mortos, a esperança de um mundo melhor, mesmo que não tenhamos varinhas, cervejas amanteigadas ou Horcruxes para destruir… Entendedores, entenderão…
Sendo honesta, todos temos Horcruxes para destruir… Pessoas que aparecem em nossas vidas para nos mostrar como não devemos ser… Uma pena, mas são necessárias.. Como chá de boldo para enjôo…
Mais uma vez sofri a morte de Alvo e de Dobby, senti as dores da orfandade de Harry e sonhei em ter uma penseira e um viratempo.
A penseira, para aliviar minha mente que, mesmo durante as aulas de yoga, insiste em permanecer cheia. Ia ser extremamente vantajoso ter um espaço para colocar meus pensamentos e folgar minha cabeça para descansar… Já o viratempo me ajudaria a viver e reviver momentos que me enchem de paz. A alegria de ver nossos filhos comendo chocolate pela primeira vez ou tocando suas primeiras músicas no violão. Ou o olhar apaixonado de Flávio me encarando ao dizer que me amava pela primeira vez…
Talvez esse seja o maior aprendizado desta releitura. A penseira eu terei que criar. Criar um mecanismo de aliviar a cabeça e o coração para deixar a vida sem pesos desnecessários. E o viratempo… Para que ele serviria se posso aproveitar bem cada momento dado por Deus, como um grande presente?
De qualquer forma, em setembro continuo aguardando meu passaporte para desembarcar em Hogsmeade… Não há idade para sonhar…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora