POUCO CONHECIMENTO, MUITA CERTEZA –

Uma das boas coisas da vida é participar, nem que seja como ouvinte, de uma roda de amigos, ou até mesmo conhecidos, discutindo os mais variados assuntos. Fui criado ouvindo adultos conversando sobre tudo, com discordâncias desde as mais amenas e civilizadas, até chegar bem próximo das chamadas vias de fato. Até sessão de hipnotismo, protagonizadas por Jair Nogueira e Diniz Câmara, tinha. Era no imenso terraço da casa de Rafael Negreiros, meu pai, em Mossoró, onde se reuniam cerca de vinte a trinta amigos todas as noites. O nível intelectual dos participantes era o mais democrático e liberal que se possa imaginar. Inacreditável é que não rolava bebida alcoólica. Dona Elizabeth, minha mãe, caprichava nos sucos, principalmente de manga, doces e salgadinhos. Homens, mulheres e até as crianças aborrecentes tinham o direito de expor os seus pontos de vista.

Desde essa época – sou de 1951 – até os dias de hoje, já com setenta anos de idade, tenho participado das mais diversas rodas de bate-papo: desde o terraço de seu Rafael, passando por cursinho pré-vestibular no Rio de Janeiro, faculdade de medicina, professor da UFRN, membro das Academias de Medicina e de Letras do Rio Grande do Norte, faculdade de Direito até assíduo frequentador de bares e botequins, como a Peixaria do Velho Chora, hoje Chorãozinho, Iate Clube, a Associação Médica – antiga Sociedade de Medicina e Cirurgia com suas sinucas, Real Botequim, Radio Amador, América, 294, Potiguares, Espetinho do Pedro, Barraca 23 do Gilvan, La Luna – do Aquino, entre outros. Durante todo esse tempo, em todos esses ambientes, uma coisa sempre me impressionou e é verdade absoluta: quanto menos conhecimento um indivíduo tem sobre determinado assunto, mais convicto e mais certeza ele tem, não admite contestações e é o dono absoluto da verdade. É o título do presente artigo.

Os exemplos, de tão evidentes, são desnecessários: analfabetos nos assuntos que exigem mais conhecimento e estudos constantes e profundos fazem afirmações em tom professoral. Nesta pandemia os falsos donos da verdade se revelaram de forma escandalosa. Alguns garantem a ação efetiva de determinadas drogas, outros, igualmente analfabetos, garantem a sua ineficácia. Não vou ficar repetindo exemplos para não cansar o leitor, mas o maior absurdo dos absurdos é duvidar das vacinas. Aqueles que são peremptoriamente contra as vacinas não existiriam sem elas, pois já teriam sucumbido com alguma das várias infecções já controladas: varíola, tétano, sarampo, varicela, difteria, etc., etc. Seria bom que essas múmias não acreditassem também em antibióticos… Calma, Armando…

Mas, o que realmente toda conversa, formal ou informal, deve conter é algum aprendizado, nem que seja uma lição de humildade para baixar o fogo.

Durante a leitura da matéria de capa da Veja ED 2758 de 06.10.2021: O AVANÇO DA ESTUPIDEZ, assinada por Ernesto Neves e Caio Saad, por várias coincidências com o que venho repetindo, meu ego pegou fogo.

A matéria, acima citada, deveria ser leitura obrigatória para todos, principalmente os pais de família: será útil não só para os seus descendentes como para eles próprios. O texto demonstra de forma científica que o uso exagerado das redes sociais e a polarização política acaba trazendo enormes prejuízos no desenvolvimento e formação da inteligência humana. Está havendo uma queda comprovada nos QIs – Quocientes de Inteligência – das novas gerações. A falta de leitura é um dos principais fatores.

Vejamos o que diz alguns dos grandes pensadores citados:

Charles Darwin (1809 – 1882) – “A ignorância gera mais frequentemente confiança do que o conhecimento: são os que sabem pouco, e não aqueles que sabem muito, que afirmam de uma forma tão categórica que este ou aquele problema nunca será resolvido pela ciência.”

Albert Einstein (1879-1955) – “Seres humanos foram dotados apenas de inteligência suficiente para ver com clareza quão inadequada é a inteligência quando confrontada com o que existe.”

Sigmund Freud (1856 – 1939) – “A inteligência é o único meio que possuímos para dominar os nossos instintos.”

Sócrates (479 A.C. – 399 A.C.) – “Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância.”

Immanuel Kant (1724-1804) – “Avalia-se a inteligência de um indivíduo pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar.”

 

 

 

 

 

 

 

Armando Negreiros – Médico e Escritor, [email protected]
As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

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