PRATO QUEBRADO –
No painel digital acendeu o número 136 e em seguida o 137 anunciando que os pedidos solicitados estavam prontos e à disposição dos clientes, no balcão. Eram 14h36mim de um sábado de junho, do ano II da Covid, em nossa cidade dos Reis Magos.
Onde? Na praça de alimentação do shopping Midway, mais precisamente na área de atendimento do Camarão & Cia.
Havíamos chegado para deliciar o “filé de tilápia com alcaparras” e, o apetite, pelo adiantado da hora, estava mais “atento” que o Radiotelescópio do Atacama curiando o universo.
De olho no painel, Cléa, minha esposa, resolveu ir pegar os pratos, e da mesa fiquei acompanhando o seu gesto de bondade. Porém um incidente transformou a cena. Ao se aproximar da mesa com os dois pratos, eis que um deles desaba no chão provocando um ruído que chamou a atenção de todos que circunvizinhavam aquele espaço. Toda a comida estava espalhada entre as mesas. O filé de tilápia com alcaparras se transformou em “filé de tilápia esparramado ao chão”.
Cléa ficou paralisada sem saber o que dizer e, muito menos, o que fazer. Porém um fato me chamou a atenção e me “roubou” parte da fome, ao perceber que a dignidade humana, que parece tão escassa, surgiu como um anjo que nos guarda e nos acode nos momentos imprevistos.
Uma jovem se aproximou e, com a clareza e segurança dos bons corações, disse em tom apaziguador: “Não se preocupem”. Imediatamente lembrei de uma faixa que outrora me deparei em frente ao Santuário de Fátima/Portugal que expressava: “Não vos inquieteis…” (Mateus 6:31-34). “Nós vamos repor outro prato igualzinho para vocês”, complementou.
Claro que a turma da limpeza, neste instante, já estava recolhendo os cacos e limpando o espalhado pelo chão.
Pedi a Cléa que ela sentasse e almoçasse a tilápia com alcaparras, arroz com brócolis e legumes que pedira. Eu esperaria o novo prato que viria posteriormente. Essa pequena espera me fez refletir um pouco sobre o que é a fome. Como interage aquele que sabe que não terá outro “prato” para comer e muito menos para repor? Qual o sentimento que o irmão sente pela falta da alimentação para ele e, muita das vezes, para os seus filhos? Como é depender de algum gesto de caridade pelo mais simples punhado de comida?
Pronto senhor!
A cada garfada do novo prato meu pensamento encontrava a boca vazia de algum irmão, e isso marejaram os meus olhos em solidariedade com aqueles que certamente ainda nada tinham comido e, sem nenhuma certeza, que teriam o que comer mais tarde.
Pois bem!
Ao término, nos levantamos e fomos até ao balcão e perguntamos o nome da jovem que nos atendeu com tanta dignidade e desprendimento. Seu nome: Janilda. Por favor, isso não vai trazer nenhum prejuízo para ela? “Não. Pode ficar tranquilo”.
Ao chegarmos em casa, fizemos uma oração para ela.
Parabenizamos a “Camarão & Cia” por ter em seu quadro de colaboradores pessoas que desempenham suas funções com dignidade, ao tempo que levamos ao conhecimento público do empenho dos proprietários em agregar aos seus produtos, algo além da comercialização: o respeito ao cliente.
Sigam firmes!
Carlos Alberto Josuá Costa – Engenheiro Civil, escritor e Membro da Academia Macaibense de Letras ([email protected])