PRECISO ACREDITAR –
A desconfiança continua tumultuando o oceano de incertezas do povo brasileiro. A esperança deu lugar ao sentimento de desamparo. A falta de convicção no atual governo reflete em setores políticos, econômicos e sociais. A descrença nas instituições permanece em alta. Afinal, no que ou em quem acreditar?
Essa pergunta martela-me a cachola com certa insistência. E por mais que eu tente amenizar seus efeitos deletérios, ela ganha força e ocupa todos os meus neurônios em busca de respostas. Preciso acreditar em algo concreto para balizar minha expectativa de vida.
Não é possível conviver no vácuo da escassez de esclarecimentos e de resultados. Este é o panorama que visualizo neste momento repleto de questionamentos diante dos descaminhos detectados no que diz respeito aos destinos do nosso querido Brasil.
“No final tudo dará certo; se ainda não deu certo é porque não chegamos ao final” – ouviremos dos otimistas; “Já passamos por situações tão ou mais vexatórias do que esta, e delas saímos ilesos” – testemunharão os indiferentes; “Vão-se os anéis, ficam os dedos” – dirão os acomodados.
Admito a disposição de espírito que leva indivíduos a ver sempre o lado bom das coisas, porém, desde que haja sinais suficientes e claros para focar objetivos palpáveis, e não sonhos ou promessas vazias.
“O olho do dono é o que engorda o boi” ou “Não se pode gastar mais do que se ganha”. Essas eram algumas regras simples, ensinadas pelos nossos antepassados, para bem gerir negócios e os lares. E sempre deram certo. A mesma simplicidade poderia ser aplicada na gestão da coisa pública: justiça no arrecadar, lucidez no planejar e eficiência no aplicar.
Trata-se, afinal, de materializar a responsabilidade do governo para com a sociedade. Justamente o contrário do que foi praticado nas duas últimas décadas: arrecadações leoninas, planejamentos nebulosos e aplicações desastrosas.
Lembro trecho do Evangelho segundo Lucas narrando uma das parábolas de Jesus. Falava o Filho de Deus aos discípulos da necessidade de rezar sempre e nunca desistir. A figuração do exemplo consistiu no diálogo entre um juiz que não temia a Deus e uma viúva carente de justiça.
– Será que Deus fará justiça aos seus escolhidos, que dia e noite gritam por Ele? Ou será que vai fazê-los esperar? – perguntou o juiz injusto à viúva em desespero.
Jesus então esclareceu aos discípulos a moral do ensinamento:
– Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier, será que ainda encontrará fé sobre a terra?
No povo brasileiro, essa falta de fé embora um tanto abalada no que tange aos designíos sagrados, vem se manifestando efetivamente quanto se trata do comportamento e de certas “boas” intensões de cabeças coroadas da nação.
Até que ponto o controle desse desagrado será mantido, não sei responder. Pelo andar da carruagem, bem antes do que possamos imaginar, veremos o impacto causado pelas insatisfações redundarem em protestos nas ruas como sinais de alerta. Daí a necessidade de algo ou de alguém no que ou em quem acreditar.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor