Violante Pimentel

Damião Rufino era proprietário de uma antiga sapataria em Natal, “DAMIÃO CALÇADOS”, quando ainda não havia Shopping Center. Já com sessenta anos de idade, continuava à frente da loja, uma das melhores da capital, com a esposa e os três filhos trabalhando com ele, além de mais três empregados.

Em dias de grande movimento, o dono da loja fazia questão de também atender aos clientes. Com sua prática de comércio e o seu carisma, tinha facilidade de convencer a clientela a comprar. Gostava de se colocar à porta da sapataria, convidando as pessoas que passavam na calçada para verem as novidades. Com muita facilidade, conseguia dar saída ao estoque de calçados e bolsas.

Aproximavam-se as festas de Natal e Ano Novo, e o comércio fervilhava de gente, comprando nas lojas e nos camelôs. Numa tarde de grande movimento, Damião recebeu um novo cliente, bem vestido e educado, acompanhado de um garoto que aparentava ter uns dez anos. Com a delicadeza que lhe era peculiar, o dono da sapataria atendeu ao cliente, que pretendia comprar sapatos de excelente marca, macios e confortáveis. Mostrou-lhe logo quatro tipos de sapatos do número solicitado, nas cores preta e marrom. O homem provou todos os pares, dando alguns passos dentro da loja, para sentir-lhes a maciez.

Enquanto provava os sapatos, o elegante cliente solicitou a Damião dois pares iguais aos que estavam expostos na vitrine, para que o garoto também provasse. Damião se afastou um pouco, indo buscar os dois pares de sapatos do número que o garoto calçava. O menino provou os sapatos, tentando escolher os mais confortáveis. Damião, com a sua experiência, tentava influenciá-lo na escolha, induzindo-o a dar preferência aos mais caros e melhores. O dono da loja percebeu logo que estava diante de um cliente de alto poder aquisitivo, pois o homem não se admirava dos preços nem regateava.

Nessas alturas, a loja estava lotada de clientes e Damião apressava-se em concluir a venda. O garoto se decidiu pelos sapatos sugeridos por ele. Quando se preparava para tirar a nota de compra dos calçados, o dono da sapataria olhou em volta, e não viu mais ali o suposto pai do garoto, que se encontrava, minutos antes, provando um bonito par de sapatos pretos. E o homem, então, perguntou:

– Menino, onde está seu pai, que estava aqui, agora mesmo, experimentando os sapatos pretos?
E o garoto respondeu:

– Aquele homem não é meu pai, não! Eu estava brincando naquela outra rua, ele me chamou e perguntou se eu queria ganhar um presente de Natal. Eu disse que queria, e ele me convidou pra vir aqui com ele comprar. Mas eu nunca tinha visto ele antes…

O elegante cliente havia sumido da loja, calçando um par de sapatos pretos novos, de fina marca, e deixando seus sapatos usados ali jogados.

Damião, indignado, entendeu que tinha sido vítima de um vigarista.

Violante PimentelProcuradora aposentada e Escritora

Ponto de Vista

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