PRESTÍGIO E SOBERBA –
“Aonde vai com tanta pressa?” Foi o que indaguei, atalhando-lhe a correria. Veio a resposta cheia: “Vou prestigiar o lançamento do livro da nossa amiga…”. Com efeito, aquele era um cara até bom. Cumpridor dos seus deveres, autointitulado “homem de bem” (como se o resto da humanidade fosse “do mau” ou a caminho disso), respeitador e de vida recatada. E nada constava tivesse sido citado em delação premiada, o que significa, nos dias atuais, um salvo-conduto para o paraíso ou para ambientes de igual placidez.
Entretanto, todo esse rosário de virtudes não é suficiente para conceder a ele o laurel de agregador de prestígio a eventos literários ou a encontros similares. Afinal, de livros é possível que o nosso apressadinho não tenha ido além da leitura dos obrigatórios escolares. Aporte de outras vertentes culturais, zero!
E de onde vem o prestígio que o moço alardeou que levaria à noite de autógrafos da amiga comum? De lugar algum! Ou melhor, da sua santa ignorância, que por sinal é compartilhada entre gregos, troianos e baianos.
A turma é mesmo desavisada quanto ao valor da palavra ora em referência. Uma breve consulta ao pai dos burros ensinaria que prestígio é importância decorrente de algo ou de alguém tido como admirável, ou mesmo poder de atração, de fascínio, de sedução, atributos bem distante da figura em comento.
Não fosse a evidente boa-fé do jejuno em letras, arriscaria dizer que a sua conduta caracterizaria muito mais soberba do que seria indutora de prestígio ao evento. Mas daqui que ele entendesse o significado de soberba… Deixa pra lá!
IVAN LIRA DE CARVALHO – Juiz Federal e Professor