O Fórum Econômico Mundial, organização com sede em Genebra, reúne anualmente, na cidade de Davos (Suíça), a “fina flor” do capitalismo global e líderes políticos convidados.
Ano a ano antecede ao Fórum, a publicação de relatório para orientar os debates, com as principais previsões de riscos, que podem afetar a economia mundial.
Desde 2016 apareceu no relatório a possibilidade de uma grande pandemia, que impactaria economicamente todos os países. Nenhuma medida preventiva foi adotada.
Espera-se, que as assustadoras previsões do relatório em 2021 despertem a humanidade para os seríssimos desafios a serem enfrentados.
O Fórum será em maio, em Cingapura, sob o slogan “O Grande Reinício”.
O documento a ser discutido destaca o impacto econômico da Covid-19, que resultou em cerca de 4,4% de recuo no Produto Global Bruto e empurrou mais 150 milhões de pessoas à pobreza extrema.
A pandemia deixa rastros desoladores. Horas de trabalho equivalentes a 495 milhões de empregos foram perdidas, apenas no segundo trimestre de 2020. Tal fato aumentará a desigualdade, além de recuperação desigual.
Apenas 28 economias foram consideradas com crescimento em 2020.
O relatório reafirma que “risco em algum lugar é risco em todo lugar”, e que fronteiras físicas ou bravatas nacionalistas não salvam o planeta de doenças, mudanças climáticas, polarização geopolítica e outros problemas.
Colocam-se como riscos de curto prazo (2021 a 2022), a estagnação prolongada da economia e falha de “cibersegurança”, que protege computadores e servidores, dispositivos móveis, sistemas eletrônicos, redes e dados contra-ataques maliciosos.
Os riscos de médio prazo (de 3 a 5 anos) começariam pelo estouro de ativos (conjunto de bens e direitos), que ocorre, quando o preço sobe muito rápido e começam a “despencar”, causando o chamado “estouro da bolha”.
A bolha imobiliária dos Estados Unidos (a pior crise, desde a Grande Depressão), começou a ser formada em 2003 e estourou em 2008.
Além disso, até 2025 poderão ocorrer instabilidade de preços (flutuações inesperadas de preços e rendimentos físicos de produtos), crise de divisas (moedas estrangeiras conversíveis e também as letras, cheques, ordens de pagamento etc. emitidos nessas moedas) e choque de commodities (preços de mercadorias aumentam, ou caem bruscamente, em curto espaço de tempo)
Assustam os riscos de longo prazo (5 a 10 anos): falência de alguns países; crise de recursos naturais (clima, perda da biodiversidade no planeta), sobretudo na oferta de produtos agrícolas; colapsos no sistema de aposentadoria, pensões e na indústria global,
A desilusão dos jovens, se consumada, consistirá na consequência mais torturante.
Uma geração impactada está emergindo em uma era de perda de oportunidades. Jovens adultos em todo o mundo enfrentam a crise financeira, aumento da desigualdade e à interrupção da transformação industrial, além de grandes desafios para sua educação, perspectivas econômicas e saúde mental.
Diante de quadro tão caótico, a indagação é quais medidas poderão ser tomadas, enquanto há tempo.
O mundo tem se transformado de tal maneira, lembra o relatório, que algumas profissões mais buscadas hoje, sequer existiam há dez anos. É uma tendência, que deve crescer.
De acordo com o estudo, 65% das crianças hoje no primário terão tipos completamente novos de emprego, quando começarem a trabalhar.
A propósito da economia do futuro, é impressionante a lucidez da professora americana Rebecca Henderson, que dirige a famosa “Harvard Business School”.
Ela considera fundamental a regulação do Estado para manter “mercados livres” e empresas livres, ao afirmar que “os “governos” têm o papel de estabelecer regras.
Os “negócios” têm um papel de criar empregos e inovação”. E a sociedade civil tem o papel de preservar esses dois entes.
Rebecca alerta sobre a concentração de poder e de renda em pequeno grupo, que traz como consequências a desaceleração do crescimento, das taxas de inovação e aumenta “a raiva social”.
Conclui dizendo: “Isso não é bom para os negócios”.
Embora o visionário filósofo e escritor Aldous Huxley tivesse uma visão pessimista, pode-se usar a denominação de sua obra prima para acreditar numa sociedade futura mais justa.
Queira Deus, que esteja por nascer um “Admirável mundo novo”!
Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado