AB DIOGENES DA CUNHA LIMA

  Diógenes da Cunha Lima

 (“Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento” – Mt 22,37; cfr. Ex 20,25-5; Dt 6,4-5)

 A primeira Constituição que o mundo conheceu foi escrita na pedra. Tem dez artigos: este e os outros nove mandamentos. Serviram de base ao ordenamento ético e jurídico do mundo oriental e, depois, do ocidental. Há um pouco de Deus em cada Carta Magna. A nossa Constituição ainda guarda o pedido de proteção divina.

A primeira Constituição começa pelo amor. Tinha razões o legislador supremo. Não é feliz quem não ama. O maior dos amores deve ser amar a Deus. Somente Ele é a excelência moral, o princípio absoluto, razão de ser do universo.

O poeta espanhol Gutierre de Cetina (1515 -1557) explica: “Move-me teu amor, e em tal maneira / que, se céu não houvera, ainda te amara, / se não houvesse inferno, te temera.”

No amor, como nos sonhos, nada é impossível. Você ama a Deus, tudo o que deseja poderá tornar-se possível. É, pois, mostrar sabedoria amar a Deus, a única fonte da felicidade plena. Depois, você está apenas retribuindo porque antes, Ele, de há muito, já amava você.

Todavia, não basta amar, mas demonstrar o seu amor. A melhor maneira de demonstrar o seu amor a Deus é fazer o bem. Também deve venerá-Lo, honrá-Lo, sentir devoção. Participar dos atos litúrgicos, o culto, a prece, a manifestação de sua fé ao seus concidadãos.

Estas manifestações não são superadas, obsoletas. Cada vez mais, a humanidade procura a religião que é uma forma de ética natural.

As virtudes teologais são a base, o que nós devemos fazer para mostrar o nosso amor à divindade. São a fé, a esperança e a caridade.

Diria: depois que te conheci, passei a amar a Deus sobre todas as coisas. Assim, discordo do poeta. Porque pessoa não é coisa. Sigo apenas o ensinamento contido em Quincas Borba, de Machado, “não se deve amar a ninguém como a Deus”. Que tenha amores muitos, mas que o maior seja à Divindade.

Temos deveres para com Deus. O homem deve abandonar-se à submissão, declarar a sua total sujeição a Deus. Assim você tem recitado no Pai Nosso: “Seja feita a Vossa vontade”.

A prece é mais do que pedir auxílio, é conversa, diálogo. É menos que dizer a Deus o que interessa a você, é mais você ouvir o que a Ele interessa, ouvir a Sua voz.

Tenho uma canção que diz que se a prece se desvanece / foge o anjo do vitral. A sua prece deve ser forte, objetiva e entendida para que os anjos, mensageiros, ajudem na condução bipolar para Deus, não fujam.

A legislação mosaica é clara e objetiva: manda amar, além de qualquer amor material. Amar é de dupla via. Se você não se ama, não pode amar ninguém.

Muitas pessoas não sabem como Deus se manifesta, onde se manifesta. Deus gosta de ser ouvido em silêncio, em lugares desertos. Deus se manifesta na beleza de uma folha, de uma flor, de um pássaro, do astro do dia, dos astros da noite. É a hora em que Ele (e Quem melhor?) pode lhe dar conselhos.

Deus atua no mundo através das pessoas.   Se você perde um objeto, procura-o. Se você perde Deus, o que vai fazer?

Há muitos sinais chamando você. Por exemplo, o sino é uma das vozes de Deus. O seu sofrimento pode ser um chamado. Assim também são a sua alegria, as suas conquistas, o desamor dos outros a você.

Você recebeu muitos benefícios. Há que amar a Deus sobre todas as coisas porque senão você é um ingrato.

Até onde pode levar o amor? Responde Fray Luis de León (1527-1591): “Num vôo só do amor fui elevado / à altura a que não chega o pensamento.”

 Diógenes da Cunha Lima – Presidente da Academia de Letras do RN

 

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