Públio José
Existe, nos dias atuais, uma forte onda de relativização de valores, de princípios. Ao que parece, na maioria das vezes, por conta de um marcante desejo – quase coletivo – de modernização, de desconstrução de valores antigos e a conseqüente substituição por valores novos. O problema é que essa tentativa de substituição de coisas ditas velhas por coisas ditas novas normalmente vem embutida numa logística de implantação de interesses de grupos, de segmentos populacionais desejosos de varrer para bem longe o que não lhe interessa preservar – enquanto semeia na mente das pessoas conceitos que são do seu agrado e que lhes trazem vantagens corporativas. Dificilmente essas coisas novas que surgem aparecem gratuitamente, espontaneamente. Têm sempre algo inconfessado por trás, muitas vezes de essência escusa, frutos indigestos de árvores aparentemente frondosas, dadivosas. Mas só na aparência. Só.
É preciso se ter cuidado com essa onda modernista, mostrada pela mídia de forma atraente, com o objetivo de fazer a reengenharia de valores, conceitos, princípios, modernizando-os, reestruturando-os ao bel prazer de grupos, de segmentos. Segundo os dicionários de hoje, princípio significa o começo, a origem, o momento em que algo teve início. É também fonte ou causa de uma ação, proposição que se põe no início de uma dedução, sendo admitida como inquestionável. Portanto, não é algo transitório, passageiro – muito menos mutável ao sabor dos desejos e anseios de quaisquer pessoas ou grupos. Em particular nos referimos aos princípios cristãos, aqueles cujo porta-voz de Deus para os homens foi Jesus Cristo, e que são normalmente bombardeados nos dias atuais por segmentos contrários ao cristianismo, na tentativa de substituí-los através de uma onda universal de relativização, de afrouxamento de valores.
Na Bíblia, o apóstolo Paulo escreve um verdadeiro tratado de defesa da dignidade, um dos pilares do viver cristão. Na segunda carta aos Tessalonicenses, capítulo 3, versículo 6 em diante, ele diz “Nós vos ordenamos, irmãos, em nome do Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente e não segundo a tradição que de nós recebestes; pois vós mesmos estais cientes do modo por que vos convém imitar-nos, visto que nunca nos portamos desordenadamente entre vós”. Paulo nos fala claramente do viver digno e do esforço que devemos fazer para preservar esse princípio. Inclusive, nos afastando daqueles que vivem desordenadamente ou que primam pela prática da indignidade em suas vidas. O apóstolo continua: “nem jamais comemos pão à custa de outrem; pelo contrário, em labor e fadiga, de noite e de dia, trabalhamos, a fim de não sermos pesados a nenhum de vós”.
Assim, a mendicância consciente, lucrativa, é um comportamento que agride a dignidade cristã, enquanto o trabalho é um dever para que ninguém venha se tornar um fardo para os outros. Paulo continua: “não porque não tivéssemos esse direito, mas por termos em vista oferecer-vos exemplo em nós mesmos, para nos imitardes. Porque, quando ainda convosco, vos ordenamos isto: se alguém não quer trabalhar, também não coma”. Ou por outra, se alguém não se portar dignamente nessa vida, provendo o seu sustento, também não consuma os bens, as riquezas gerados pelos que trabalham, pois estes bens se tornam, pelo princípio da dignidade, um bem inacessível aos que agem indignamente. Paulo aponta, então, para a prática da malandragem que já acontecia, naquele tempo, no meio do povo cristão: “Pois, de fato, estamos informados de que, entre vós, há pessoas que andam desordenadamente, não trabalhando; antes, se intrometem na vida alheia”.
“A elas, porém, preceitua, determinamos e exortamos, no Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando tranqüilamente, comam o seu próprio pão”. Já o que se vê hoje é a mania generalizada de muitos quererem se aproveitar da ingenuidade dos outros, praticando coisas desordenadas de que fala o apóstolo. E, para dar lastro à sua visão de vida, tratam de tentar subverter princípios que orientam a vida dos homens desde o ministério de Jesus Cristo. Malandragem, desonestidade, ganância, argúcia exagerada, vagabundagem, tudo está sendo relativizado com o objetivo de se misturar, no mesmo balaio, princípios como dignidade, honestidade, legalidade – além do belo princípio da sadia convivência entre os homens. Com essa mistura, se procura confundir a mente das pessoas, fazendo-as parecer ultrapassadas, conservadoras, quando, na verdade, buscam tão somente viver segundo seus princípios. Aliás, coisa difícil, hoje em dia. Muito difícil.
Públio José – Jornalista – ([email protected])