Declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro sobre trabalho infantil e trabalho análogo ao escravo podem levar empresas e governos estrangeiros a restringir a compra de produtos brasileiros, o que causaria prejuízo a empresas nacionais, segundo afirmou o procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Curado Fleury, em entrevista ao portal G1.
No início de julho, Bolsonaro disse que não defende o trabalho infantil, mas afirmou que “o trabalho dignifica o homem, a mulher, não importa a idade”. O presidente chegou a citar o próprio exemplo, contou que começou a trabalhar aos oito anos “plantando milho, colhendo banana”, e disse que isso “fez muito bem” a ele.
No final de julho, Bolsonaro criticou a emenda constitucional que pune com expropriação a propriedade rural que pratica trabalho análogo ao escravo. Bolsonaro também defendeu uma definição clara do que é “trabalho análogo à escravidão” a fim de se dar mais “garantia” aos empregadores.
Para o procurador-geral do Trabalho, que deixa o cargo na próxima semana, as falas do presidente preocupam. O risco, segundo ele, é que empresas estrangeiras e governos identifiquem nas falas de Bolsonaro indícios de que o governo brasileiro reduzirá esforços para combater o trabalho infantil e o análogo ao escravo.
“As marcas lá fora vão querer ter o seu produto associado a um país onde há uma defesa pública do trabalho infantil?”, questiona Fleury, se referindo à fala de Bolsonaro do começo de julho.
O Portal G1 procurou a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, que informou que não comentaria as declarações de Fleury.
O procurador citou o exemplo da empresa sueca Paradiset, maior rede supermercados da Escandinávia, que anunciou no começo de junho que deixaria de importar produtos do Brasil devido a notícias sobre a liberação de pesticidas e aumento do desmatamento.
Em entrevista ao jornal “O Globo”, o fundador da empresa, Johannes Cullberg, atribuiu os problemas ao presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de “maníaco”.
Durante participação no programa Painel, da GloboNews, que foi ao ar na semana passada, o presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, disse que as notícias sobre desmatamento ilegal no país, “colam” no setor, geram uma “reverberação internacional extremamente negativa” e prejudicam as empresas que exportam produtos agrícolas.
Fleury afirmou que países como os EUA monitoram o combate ao trabalho análogo ao escravo e infantil por seus parceiros comerciais. E que o Brasil corre o risco de entrar na “lista suja” desses países.
“Na hora que a gente deixar de combater [o trabalho infantil e o análogo ao escravo, a gente vai sair do azul e passar para o vermelho. Os produtos brasileiros poderão – e certamente irão – sofrer restrição de entrada nos EUA. Na Europa também tem essa lista suja”, afirmou.
“Interessa economicamente para os produtores brasileiros que o Brasil tenha esse carimbo?”, declarou o procurador-geral do trabalho.
Fonte: G1
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